Introdução
A atuação e produção de Edgard Roquette-Pinto (1884-1954) são exemplares do exercício da antropologia no Brasil nas primeiras décadas do século XX, com importante presença da antropologia física nas práticas etnográficas (Seyferth 1985, 2008 ; Correa 1998 ; Santos 2008, 2010 ; Santos 2019a, 2020). O estudo de sua trajetória e obra permite compreender, entre outras coisas, o modo como se deu a associação do fazer científico antropológico com um projeto político de refundação do Brasil implementado após a proclamação da República em 1889.
Com uma larga atuação na área médica, educacional e de comunicação popular, Edgard Roquette-Pinto sobressaiu-se no campo da antropologia sobretudo durante seu período de atuação no Museu Nacional do Rio de Janeiro, onde ingressou em 1905 e permaneceu até 1935. Nesse período, desenvolveu atividades de campo, formulou exposições, publicou artigos e livros científicos e estabeleceu uma próxima interlocução com Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958), à época a frente do projeto de construção das linhas telegráficas entre o Mato-Grosso e o Amazonas.
Tal projeto, como veremos neste artigo, buscou consolidar a soberania nacional em diferentes regiões do país, o que se deu por meio da abertura de estradas, pela conexão de regiões pela linha telegráfica, pela liberação das terras públicas ocupadas pelas populações indígenas e pela instalação de colonos e fazendeiros nesses espaços. E se deu ainda pela construção de uma legitimidade científica que passou pela antropologia e por diferentes ramos das ciências naturais. Para melhor compreender tal processo, tomarei a trajetória de Edgar Roquette-Pinto desde a sua formação inicial, passando por suas primeiras experiências de trabalho de campo e, por fim, pelo legado científico que deixou e pelo horizonte imaginado para as populações indígenas no começo do século XX.
Do “espírito curioso” e do “desejo pelas viagens” à primeira sistematização científica
Médico, antropólogo, educador, escritor e pensador brasileiro, Edgard Roquette-Pinto (1884-1954) nasceu na cidade do Rio de Janeiro, então capital imperial. Filho do advogado pernambucano Manuel Menlio Pinto Vieira de Melo e da mineira Josefina Roquette Carneiro de Mendonça oriunda de uma família de proprietários rurais, Roquette-Pinto foi criado pela avó materna na fazenda Bela Fama, no interior do estado de Minas Gerais. De volta ao Rio de Janeiro, concluiu seus estudos primários no Externato Aquino, prestigioso colégio carioca de forte ênfase científica (Lima & Sá 2008) ; em seguida, ingressou na Faculdade de Medicina. A escolha pelo curso de medicina, é atribuída ao contato com Francisco de Castro, professor da Faculdade de Medicina que em consulta a um familiar, convenceu o jovem que, “um espírito curioso” como o dele, “precisava de uma carreira científica” (Roquette-Pinto em entrevista a J. Silveira, 1939 : 46).
Assim, o desejo pelas viagens que o impulsionava a ser oficial da Marinha foi substituído pelo incentivo e a curiosidade pelas ciências biológicas. Ao ingressar na Faculdade de Medicina, Roquette-Pinto destacou-se como excelente aluno, e no final do curso, aderiu ao positivismo sob influência de Henrique Batista, professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (Venâncio Filho 2008 : 60). Concluiu seu curso em 1905 com o trabalho intitulado O exercício da medicina entre indígenas brasileiros (Roquette-Pinto 1906). Durante o período universitário, por meio do professor Brant Paes Leme, se interessou por anatomia e antropologia, campos científicos próximos no Brasil do início do século XX e decidiu seguir nessa direção (Roquette-Pinto em entrevista a J. Silveira, 1939 : 46). [1]
Sua monografia de conclusão de curso (Roquette-Pinto 1906) é a primeira publicação do autor sobre a temática indígena. Por meio desse trabalho podemos ter acesso às principais referências antropológicas e etnográficas que nortearam seu trabalho no período precedente ao ingresso no Museu Nacional. Nesta monografia, o autor realiza uma combinação entre métodos da etnografia, da antropometria e da sociologia nascente para analisar a prática da medicina entre os indígenas americanos. Para isso, faz uso de autores fundamentais à formação do campo da antropologia brasileira, como João Barbosa Rodrigues (1842-1909), Ladislau Netto (1836-1894) e Sílvio Romero (1851-1914), e percorre a bibliografia internacional alinhada a essa mesma área, como os estudos de Rudolf Virchow (1821-1902), Paul Broca (1824-1890), Peter Lund (1801-1880), entre outros. Além disso, referenciou-se em publicações clássicas nacionais, como a Revista da Exposição Antropológica (de 1882), concebida no período da direção de Ladislau Netto no Museu nacional ; a Revue d’anthropologie, sob direção de Paul Broca, e o Archivio per l’antropologia e la etnologia, organizado pela Società Italiana di Antropologia, Etnologia e Psicologia Comparata.
Para compor O exercício da medicina entre os indígenas da América o autor buscou estudar os mais diversos grupos indígenas que habitavam a América - desde os residentes nas costas da Groelândia e no litoral ártico da América até as populações da América do Sul (Roquette-Pinto 1906 : 3, 61). De modo a conhecer as práticas médicas dessas populações, por sua vez, recorreu a dados de revistas e anuários de Antropologia como o Annual Repport of the Bureau of Ethnology, a relatos de viajantes e de colonos – por exemplo, Adventures of the First Settlers on the Oregon or Columbia River (1923 [1849]), de Alexander Ross (1783-1856), e The Northwest Coast, de
James Gilchrist Swan (1818-1900) –, de expedições científicas, como as Carl Friedrich Philipp Von Martius (1794-1868) e Karl Von den Steinen (1855-1929), e de missionários, por exemplo a Historia de la Compañía de Jesús en Nueva-España (1841-1842), obra publicada a titulo póstumo, do mexicano Francisco Javier Alegre (1729-1788) (Roquette-Pinto 1906 : 60, 66-70).
No livro, os relatos encontram-se organizados segundo os grupos indígenas, dos quais são destacados, em cada sociedade, os responsáveis pela função médica, pelo manuseio dos instrumentos, pelos remédios utilizados e pelas diferentes formas de cura. A compreensão desses aspectos não se dá de modo isolada, mas correlacionada às condições de alimentação, à organização social, às crenças nativas, à localização geográfica, etc. Roquette-Pinto não desconsidera ainda uma dimensão fundamental da antropologia daquele momento - a craniometria abordada a partir dos trabalhos do suíço Louis André Gosse (1791-1873), nomeadamente o seu Essai sur les déformations artificielles du crâne (1855), e do francês Ludger Jules Joseph Lunier (1822-1885), como o verbete “Déformations artificielles du crâne” no volume X (1869) do Nouveau dictionnaire de médecine et de chirurgie (1869).
Formar-se antropólogo em um museu (1905-1935)
Roquette-Pinto ingressou no Museu Nacional para o cargo de assistente da Seção de Antropologia, Etnografia e Arqueologia. Alguns anos antes, em 1876, seria inaugurado o primeiro curso público de antropologia na instituição, conduzido pelo antropólogo e médico João Batista de Lacerda (1846-1915), chefe da recém-criada seção de “Antropologia, zoologia geral e aplicada, anatomia comparada e paleontologia animal”. O curso, de dois anos, dedicava-se, na primeira metade, ao estudo de anatomia e da fisiologia do homem, e, na seguinte, ao estudo das raças humanas, especialmente das raças americanas ; questões como herança, mestiçagem, aclimatação, monogenismo e poligenismo constituíram os principais aspectos aí trabalhados (Lacerda apud Castro Faria 1999 : 23).
Outro feito marcante para a consolidação da antropologia no país se deu em 1882, com a realização da Exposição Antropológica brasileira, iniciativa do então diretor do Museu, o botânico Ladislau Netto (1838-1894). Nessa ocasião, tem início uma nova tradição de exibição dos objetos, na qual o modelo de troféus de guerra seria substituído pela composição de cenas nativas, modificação que trouxe a ênfase etnográfica para o centro do debate, ao buscar representar “a vida nativa” no interior do espaço museal. Além disso, a exposição estabeleceu um fluxo de envio de objetos pelos presidentes de províncias e outros agentes, tais como chefes de milícias e tenentes. Tal movimento de doações e envios ampliou significativamente em termos de quantidade e variedade o acervo da instituição, em direção semelhante às ações de colecionismo empreendidas pelos demais museus etnográficos do mundo (Stocking 1985 ; Castro Faria 1998 ; L’Estoile 2007 ; Ter Keurs 2010 ; Santos 2019c). A publicação da revista Arquivos do Museu Nacional, a partir de 1876, e da Revista da Exposição Antropológica, em 1882, consolidaram uma rede de comunicação científica do Museu tecida por meio de permutas e visitas que promoveram a formação de uma comunidade internacional em diálogo (Agostinho 2014 ; Sily 2012).
O período inicial da atuação de Roquette-Pinto como antropólogo no Museu Nacional foi marcado por ampla atividade no âmbito dos domínios arqueológico, linguístico, histórico, etnográfico, antropológico e administrativo, bem como pelo exercício sistemático da escrita etnográfica [2]. Ao longo desse período, o antropólogo participou das expedições ao litoral do Rio Grande do Sul (1906), à Serra do Norte (1912) e ao Paraguai (1920). Em 1922, já havia dado início ao largo estudo dos tipos nacionais e participado de grandes eventos científicos, dos quais se destacam o 1º Congresso Universal das Raças (Londres, 1911) e o XVIII Congresso Internacional de Americanistas (Londres 1912). Em 1910, constituiu a primeira filmoteca do Museu Nacional ; em 1915, publicou o Guia das Coleções Antropológicas do Museu Nacional e, em 1918, reformulou a sala de Etnografia do Museu Paulista, permanecendo responsável pela reorganização do acervo do Museu Nacional.
Os métodos de classificação e catalogação de objetos e de formulação de exposições propostos por Roquette-Pinto tornaram-se reconhecidos internacionalmente na década seguinte, como indicam as palavras de Paul Rivet em sua passagem pelo Museu Nacional : “Personne n’a le droit de parler d’ethnographie brésilienne s’il n’a pas visité et étudié en détail les admirables collections du Musée National de Rio de Janeiro. Jamais je ne me suis autant instruit que pendant les trop courtes semaines que j’ai passées à Rio. J’en emporte un souvenir délicieux.” (Museu Nacional 1929).
Outro aspecto marcante se deu com sua inserção no programa de expedições científicas realizado pelo Museu Nacional. A realização de expedições com fins científicos tornou-se corrente instituição, sobretudo a partir da segunda metade do século XIX. Um esforço que se somava ao movimento promovido pelo governo brasileiro de reconhecimento e integração de suas diferentes regiões. Segundo Duarte (2022), o primeiro grande feito nesse sentido foi a Comissão Científica de Exploração realizada entre 1859 e 1861, na região Nordeste do Brasil, e que ficou conhecida como a Comissão das Borboletas, da qual tomou parte o poeta romântico Gonçalves Dias (1823-1864) [3]. Outros empreendimentos de vulto contaram com a participação direta de cientistas do Museu Nacional e incluíram uma vasta região de pesquisas que compreendia as províncias do Pará, Amazonas, Pernambuco, Alagoas, Santa Catarina e Paraná (Souza 2011). As expedições almejavam sobretudo obter materiais ósseos, urnas funerárias e demais vestígios arqueológicos. Cabe destacar que dessas expedições tomaram parte diretamente pesquisadores associados ao Museu Nacional, a exemplo do naturalista Alípio de Miranda (1874-1939), do botânico Frederico Hoehne (1882-1959) entre outros que, pouco a pouco, consolidaram a etnografia como prática central das atividades desenvolvidas na instituição (Castro Faria 1993 ; Dias & Souza Lima, 2022 ; Duarte 2022).
Durante o seu primeiro ano no Museu Nacional, Roquette-Pinto realizou expedições de exploração dos sambaquis do litoral do Rio Grande do Sul [4]. Ao longo dessa viagem, percorreu vinte e três sítios arqueológicos. Face à destruição precedente de muitos deles, não pôde obter os resultados que esperava e recolheu apenas alguns machados de pedra, artefatos líticos e objetos cerâmicos, não encontrando nenhuma ossada humana (Roquette-Pinto 1907 : 31-35). Em contrapartida, buscou compensar a ausência de resultados significativos com a descrição minuciosa daquele território, cujo valor econômico, segundo o autor, era desconhecido. Empenhou-se em descrever as paisagens, as formas de acesso aos lugares, as condições de navegação dos rios, a composição das cidades encontradas, os guias, a vegetação e os animais nativos, os principais povoados, as formas de construção das casas, os tipos de pesca e os peixes, os preços pagos pelo trabalho dos capatazes, as condições de estadia nos campos, as áreas férteis - tudo foi alvo do seu olhar e descrição minuciosa (Roquette-Pinto 1907).
Em 1909, Roquette-Pinto apresentou no 4º Congresso Médico Latino-Americano, ocorrido no Rio de Janeiro, o trabalho Etnografia Indígena do Brasil : estado atual dos nossos conhecimentos (Roquette-Pinto 1909), no qual se dedicou aos estudos linguísticos e históricos dos povos indígenas do Brasil. A partir de uma reflexão sobre a inexistência de uma história geral dos povos do Brasil, se propõe a realizá-la por meio de uma combinação da língua, da geografia e dos aspectos físicos. Para isso considerou a divisão entre Tupis e Tapuias [5] como elemento primordial da ocupação territorial (Roquette-Pinto 1909 : 3). Para o autor, apesar das diferentes línguas e costumes, os Tapuias constituíam uma única raça e suas afirmações no que diz respeito às classificações linguísticas dos povos do Brasil e suas rotas de migração recuperavam Alcide Dessalines D’Orbigny (1802-1857) e Paul Ehrenreich (1855-1914). Para Roquette-Pinto era preciso constituir uma combinação entre geografia e língua ; tal formulação o acompanhou em diversos outros trabalhos realizados posteriormente e permitiu uma síntese das influências germânicas recebidas com os conhecimentos etnográficos da época.
Poucos anos depois, Roquette-Pinto participou do 1º Congresso Universal das Raças, realizado em 1911, em Londres, onde fez a apresentação do seu Diagrama da constituição antropológica da população do Brasil, organizado segundo as estatísticas oficiais de 1872 a 1890. Na ocasião, elaborou o trabalho com João Batista de Lacerda, representante oficial do governo brasileiro, único da América Latina a fazer-se representar (Seyferth 1985 : 82). O estudo apresentado por Lacerda, Sur les métis au Brésil, buscava comprovar a viabilidade da do branqueamento para o caso da população brasileira em 100 anos, que se daria por meio da mestiçagem. Para isso, a única prova estatística do trabalho fora fornecida por Roquette-Pinto (Seyferth 1985 : 97 ; Santos 2010). Segundo Castro Faria, “o embranquecimento do brasileiro passou a ser considerado daí por diante não apenas um ideal, mas uma verdade científica ; portanto, além de altamente apreciada, incontestável” (Castro Faria 1959 : 5). Para Ricardo Ventura Santos, trata-se de uma conciliação “entre a realidade (mestiça) da sociedade brasileira com teorias científicas que desqualificavam o mestiço” (Santos 2010 : 131).
Cabe destacar o movimento de ressignificação da mestiçagem promovido pelo autor naquele momento e a sua defesa do elemento nacional em oposição aos defensores de uma política eugenista que enfatizava a migração de grupos humanos, sobretudo latinos, como forma de embranquecimento e melhoria da população brasileira tomada como degenerada. A oposição à ideia de degeneração do povo brasileiro e a positividade atribuída à população mestiça atravessa toda a obra de Roquette-Pinto e foi reiterada diversas vezes, muitas das quais em situações em que sua posição era divergente, como no trabalho apresentado no Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia, realizado no Rio de Janeiro, em 1929 (Roquette-Pinto 1929). Esse afastamento de um determinismo eugênico estabeleceu uma posição contrária ao racismo científico corrente, posição característica do Museu Nacional e de Roquette-Pinto (Santos 2010 ; Schwarcz 2004 ; Duarte 2000 ; Castro Faria 1998).
Em 1912, Roquette-Pinto enviou ao 28º Congresso Internacional de Americanistas, realizado em Londres, sua Nota sobre os índios Nhambiquara do Brasil Central (Roquette-Pinto, 1912a). O trabalho foi formulado a partir de peças etnográficas e de material linguístico remetidos ao Museu Nacional pela Comissão Rondon nos anos de 1910 e 1911. Nele retoma as considerações do importante etnólogo e antropólogo alemão, Karl Von den Steinen [6], e utiliza o vocabulário sistematizado por integrantes da Comissão Rondon para propor a classificação dos Nhambiquara entre os grupos Gê (Roquette-Pinto 1912a : 33), o que mostra o seu uso, nesse trabalho e nos precedentes, de dados obtidos de modo indireto para formulação das análises ; centrava-se assim em objetos, dados etnográficos elaborados por outros, em descrições e listas de vocabulários compilados em condições muito diversas, numa prática comum aos antropólogos de seu tempo (Stocking 1985 ; Pacheco de Oliveira 1987).
Embora tivesse sido convidado por Rondon para integrar a expedição à Serra do Norte ainda em 1909, somente em 1912 o antropólogo tomaria parte no empreendimento, passando a realizar seus estudos in loco. Vale destacar que, nessa ocasião, apesar de não ter ainda realizado um trabalho de campo diretamente com populações indígenas, ele não era mais um jovem e inexperiente antropólogo nos termos do campo científico da época : dirigiu-se à Serra do Norte enquanto antropólogo em vias de reconhecimento e com um conjunto significativo de experiências acumuladas em importantes congressos científicos, com um domínio apurado da bibliografia etnográfica e do acervo já constituído sobre essas populações.
Roquette-Pinto iniciou a expedição que seria um dos grandes marcos de sua carreira em 22 de julho de 1912, regressando ao Rio de Janeiro em 26 de novembro de 1912. Em cerca de 120 dias, pouco mais do que o tempo despendido na pesquisa dos sambaquis do Rio Grande do Sul, pôde obter resultados incomparavelmente mais expressivos do que nessa primeira experiência. Com base neles, realizou uma série de conferências na Biblioteca Nacional, publicou artigos (Roquette-Pinto 1955 [1911]) ; uma tese, Dinoponera Grandis (Roquette-Pinto 1915b) ; e um livro, Rondônia : Anthropologia, Ethnografia (Roquette-Pinto 1917). No relatório de atividades apresentado ao Museu Nacional no ano de 1912, indica ter retornado à Seção de Antropologia e Etnografia com “uma coleção inestimável”, composta por cerca de 2.000 espécimes etnográficos, 52 fichas antropométricas, mais de 100 fotografias e muitos metros de filme etnográfico (Roquette-Pinto 1912b). Para que tais resultados fossem possíveis, contou com a sólida estrutura operacional da Comissão Rondon, o que lhe permitiu localizar e contatar os grupos indígenas utilizando os caminhos de acesso ao Vale do Juruena e à Serra do Norte já consolidados pela Comissão. Ele mesmo aponta que Cândido Rondon proporcionou-lhe o contato com os agentes da Comissão, em especial com os tenentes Antônio Pyrinneus e Emanuel Silvestre Amarante, e com os indígenas, sobretudo com Libânio Koluizorocê [7], que foram fundamentais para o sucesso do empreendimento (Roquette-Pinto 2005 : 200 ; Santos 2020, 2022). É interessante observar como ele reconhece a dimensão da exploração implicada no empreendimento, mas, mesmo assim, sinaliza ter ido realizar somente o “sonho de estudioso” ; este “sonho”, contudo, estava imerso na situação colonial.
Por suas anotações (e pela bibliografia de apoio) é possível entrever ainda a rede de interdependência formada na região e que, por vezes, alcançava até mesmo o fornecimento de suprimentos. Nas ocasiões em que havia interrupções das estradas, por exemplo, eram os indígenas quem socorriam a equipe da Comissão fornecendo-lhes alimentos (Roquette-Pinto 2005 : 106). Essa interdependência entre nativos e estrangeiros é destacada quando o antropólogo caracteriza o encontro com os Nambiquara como o encontro com o homem da “idade da pedra” (Roquette-Pinto 2005 : 108), reiterando considerações anteriores realizadas por K. Von den Steinen (1888) e evidenciando o que Fabian (1983) denominou de “alocronismo” na antropologia.
Para a preparação de sua viagem, Roquette-Pinto dedicou-se ao estudo de um conjunto diverso de autores e de agentes coloniais. Fazem parte do seu universo de conhecimento prévio sobre a região e sobre os povos que ali habitavam : relatos de bandeirantes do século XVIII (como Antônio Pires de Campos e Paschoal Moreira Cabra) ; expedições anteriores, como as realizadas por Georg von Langsdorff (1874-1852) entre 1825 e 1829, por Amédée Moure [8] (1862) e Von Martius ; relatórios de presidentes de província, como os realizados por Pimenta Bueno (1848), ou ainda publicações científicas, notadamente os trabalhos de Maria do Carmo de Mello Rego publicados na Revista Arquivos do Museu Nacional, além de documentos da Diretoria Geral dos Índios de Cuiabá e de referências incidentais aos trabalhos de G. Pimentel, Couto de Magalhães, Chandless (1862), Barbosa Rodrigues (1875), Henri Anatole Coudreau (1897), Clements Markham (1910) e Max Schmidt (1910), entre outros.
A despeito das referências mobilizadas por Roquette-Pinto, ele indica que essas não constituíam naquele momento, especialmente sobre os Nambiquara, um quadro de informações sistemático. Somente após a instalação da Comissão Rondon na região e a possibilidade de constituição de novos estudos essas lacunas foram, segundo ele, superadas. No momento da inserção do antropólogo no quadro geral de pesquisadores associados à Comissão Rondon, os contatos com os grupos Nambiquaras se davam de modo intermitente. Para uma aproximação mais efetiva, Roquette-Pinto passou a recorrer às práticas empreendidas pela Comissão, tais como a oferta de presentes, a mobilização de indígenas Parecis como guias e a utilização das mesmas rotas de deslocamento usadas pela Comissão. Essa recorrência permitiu que o antropólogo se encontrasse com os indígenas e realizasse estudos antropométricos, anotações de vocabulário, gravação dos cânticos, e coligisse coleções etnográficas, entre outras tantas atividades ; não sem a recusa de alguns deles em participar dos estudos (Roquette-Pinto 2005 : 109-125). A associação da disciplina, em sua origem, a empreendimentos militares e de ocupação de territórios controlados por populações autóctones definiu padrões de produção de dados na antropologia que, apesar das duras críticas e revisões, não foram de todo abandonados (Fabian 1983 ; Stocking 1985).
Esses padrões de produção de dados etnográficos se refletiram, no caso brasileiro, na conexão entre antropologia e indigenismo. Roquette-Pinto, a partir de sua experiência em Rondônia, passou a caracterizar os indígenas da região sob duas perspectivas distintas : os Pareci, apontados pelo autor como “verdadeiros sertanejos” (2005 : 93), “raça forte” cujos trabalho, abnegação e resistência teriam contribuído decididamente para a obra de conquista de Rondônia (2005 : 99, 201), e os Nambiquara, os quais deve-se “proteger” sem “dirigir, nem aproveitar” (2005 : 201). A responsabilidade que ele manifesta em relação ao segundo grupo advém, ele diz, da “grande dívida” contraída pela invasão dos seus territórios e, por isso, aos indígenas deveriam ser garantidas as condições de sua continuidade social. Contrariando os debates correntes de sua época, Roquette-Pinto aponta : “índio é índio ; brasileiro é brasileiro” e não se deve buscar transformar os indígenas em cidadãos (2005 : 201).
As classificações produzidas por Roquette-Pinto sobre a população indígena de Rondônia estabeleceram uma distinção entre os indígenas a serem protegidos (Nambiquaras) e aqueles a serem convertidos em trabalhadores (Parecis) ; tal classificação acompanhava a distinção produzida pela Comissão Rondon para as populações indígenas daquele estado e de outras regiões. E, ao ser incorporada no contexto científico dos debates antropológicos, contribuiu para legitimação dessa divisão em outros termos, funcionando como um espaço de reafirmação do trabalho da Comissão e do próprio Cândido Rondon e que resultou na limitação do controle exercido por essas populações sobre os seus antigos territórios. Tal papel desempenhado por Roquette-Pinto como antropólogo vinculado ao Museu Nacional, e de outros cientistas igualmente ligados à instituição, foi bastante amplo e difuso e precisa ser mais bem detalhado e conhecido (Souza Lima 1995, 2022 ; Dias & Souza Lima 2022 ; Castro Faria 1993, 1998). Para os fins desse texto, convém, contudo, retomar o papel público e político que as instituições museais desempenharam em fins do século XIX e primeiras décadas do século XX, constituindo espaços próprios de produção de sentido e de imagens da nação (Stocking 1985 ; Anderson 1991 ; Mauss 2013 ; Pacheco de Oliveira & Santos 2019), e para os quais o estudo da trajetória e atuação de Edgard Roquette-Pinto são exemplares de um modo de ser antropólogo no Brasil naquele momento.
O incêndio do Museu Nacional em 2018 e a função pública do legado de Roquette-Pinto
No prefácio à primeira edição de seu livro Rondônia, Roquette-Pinto, imaginava usos futuros para o trabalho que havia recém realizado : “Quem sabe se mais tarde, um filho da Rondônia, bisneto de alguns desses que deixei com saudade em 1912, educado por um sucessor do Mestre, se o houver capaz de recolher a herança, não folheará estas notas, para ligá-las ao material conhecido e traçar, assim, a notícia completa do seu povo” (Roquette-Pinto 2005 : XV). A aposta de Roquette-Pinto na formação de coleções para os museus não estava restrita somente ao momento da coleta e exibição de objetos ou, ainda, à sua própria produção científica. Ela apontava para um horizonte futuro no qual ele imaginava os descendentes daqueles grupos indígenas buscando em seus registros os caminhos necessários para a reconstrução da sua própria trajetória e história.
Estamos hoje no final do horizonte imaginado por Roquette-Pinto ; futuro no qual os descendentes daqueles grupos têm acesso ao ensino superior, frequentam o Museu Nacional e ocupam suas aulas de pós-graduação em Antropologia, Linguística e tantas outras formações. O momento em que as notas e objetos passam a ser relidos e reinterpretados por essas populações que eram “objetos” de descrição e pesquisa.
Um incêndio de grandes proporções em 2018 interrompeu, em parte, a projeção feita pelo antropólogo. A destruição do Museu Nacional, naquele momento específico, representou uma perda incomensurável que atingiu de modo direto o seu acervo etnográfico e arquivístico, e provocou uma ruptura numa ordem que havia começado a se inverter. Face aos modos como se deu a distribuição dos acervos entre diferentes instituições públicas e aos processos de salvaguarda que já estavam em curso, para o caso específico do legado de Roquette-Pinto, apenas algumas coleções específicas sobreviveram.
Fazem parte desse conjunto parte dos fonogramas gravados pelo antropólogo - primeiro e mais original registro dos cânticos Pareci e Nambiquara. Dos 12 fonogramas gravados pelo antropólogo, 9 integram a “Coleção Documentos Sonoros” (Pacheco de Oliveira & Souza Lima 2006). Um segundo conjunto diz respeito à coleção de documentos pessoais depositada na Academia Brasileira de Letras com cerca de 6.000 itens. Fazem parte desse fundo as cadernetas de campo, os estudos preparatórios dos livros publicados, correspondências e telegramas enviados durante as atividades profissionais e algumas cópias das fichas antropométricas e fotográficas. O terceiro conjunto diz respeito aos objetos enviados a outros museus brasileiros e estrangeiros e que, por meio de permutas e presentes diplomáticos, passaram a compor o acervo de diferentes museus do mundo – o Museu de La Plata, na Argentina, o Museu Goeldi, no Pará, o Museu Paulista, em São Paulo, entre outros. Por fim, os escritos, palestras e conferências publicados em revistas científicas e jornais de ampla circulação em parte indicados nas obras de referência sobre o autor.
Que o trabalho interdisciplinar sobre esse vasto acervo possa seguir iluminando as condições e implicações políticas do colecionismo e de sua prática na antropologia contemporânea. Afinal, os modos de fazer antropologia com os povos indígenas e demais comunidades nacionais não podem ser compreendidos como sem consequências. As representações constituídas pela disciplina, especialmente em países com profundas desigualdades sociais como o Brasil, refletem-se no acesso, na legitimação e garantia de direitos para essas comunidades. Que agora, acompanhado dos nossos muitos colegas antropólogos-indígenas, como previu Roquette-Pinto, esse importante legado da disciplina possa ser revisitado e venha a constituir muitas novas histórias conectadas às histórias dos seus povos.
Fontes primárias consultadas
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Museu Nacional, 1882b. Revista da Exposição Anthropologica Brazileira. Rio de Janeiro, Tipografia de Pinheiro & C.
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Roquette-Pinto, Edgard, 1912a. Nota sobre os indios Nhambiquaras do Brazil-Central. Rezultados Etnograficos da Expedição Rondon – Enviada ao XVIII Congresso de Americanistas, Londres, Rio de Janeiro, s./e., p. 24-43.
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