Trajetória(s) em resumo
Heloisa Alberto Torres (1895-1977) foi uma destacada antropóloga brasileira, grande articuladora de relações científicas e pioneira em muitas atividades da área. Primeira mulher antropóloga do Museu Nacional do Rio de Janeiro e diretora da instituição, entre 1938 e 1955, abriu caminhos para a constituição e preservação de sítios e coleções arqueológicas, lançando-se, com determinação, na pesquisa etnográfica [1]. A preservação tinha como foco os “produtos da arte de populações indígenas atuais e implicaria em proteção às próprias populações”, isto é, indígenas e trabalhadores nacionais. Parcela dessa proteção de “documentos do patrimônio material e espiritual da cultura” seria responsabilidade do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [2]. A reunião das coleções desse patrimônio era a tarefa da arqueologia e da etnografia, a que Heloisa se dedicou [3].
A antropóloga nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 17 de setembro de 1895, no seio de uma família de enorme projeção intelectual e política. Seu pai, Alberto Torres (1865-1917), mais do que um conhecido jurista, foi um dos grandes pensadores do Brasil, inspirador de várias gerações de intelectuais [4]. Em seus livros, Organização Social e O Problema Nacional Brasileiro, ambos publicados em 1914, expressava o conhecimento minucioso do Brasil, com um pensamento livre de preconceitos e ufanismos, como observou o jurista e historiador Barbosa Lima Sobrinho (Sobrinho, 1968 : 307). Sua mãe, Maria José da Silveira, era filha do poeta, jornalista e político, Joaquim Xavier da Silveira, natural de São Paulo (Ibid : 258). Não é de estranhar que, tendo vivido nesse ambiente intelectual, Heloisa se dedicasse, na antropologia, à valorização da cultura das populações indígenas, que era um campo de pesquisa que se abria para o estudo da desigualdade social, uma das questões que, aliás, sensibilizaram Alberto Torres [5].
Heloisa cresceu e moldou sua visão de mundo naquele intenso ambiente familiar e transitou facilmente no meio político do país - até mesmo tomando chá da tarde com o presidente Getúlio Varga [6] - tão bem como circulou no meio científico, nacional e internacional. Fez os estudos básicos no Colégio Sion, em Londres e no Rio de Janeiro, onde se diplomou em 1913 [7]. No colégio, recebeu uma formação em arte, literatura, história e etnografia, bem como adquiriu fluência das línguas inglesa e francesa. Quando entrou para o Museu Nacional, fez questão de estudar alemão, a fim de conhecer, no original, a literatura científica mais recente de etnografia e arqueologia. (cf. Castro Faria, 1998). O pai faleceu em 1917 e, no ano seguinte, ela ingressou como estagiária no Setor de Antropologia, Arqueologia e Etnografia do Museu Nacional, então dirigido pelo antropólogo Roquette Pinto (1884-1954) [8]. Ambos se identificaram na teoria antropológica de Franz Boas e na grande preocupação com o futuro do país, em termos de educação e das condições sociais das populações mais desfavorecidas. A valorização da cultura desses grupos na sua diversidade, material e social, foi a grande inquietação de Heloisa [9].
A sua atuação no Museu Nacional tem sido destacada pelo papel de administradora, como diretora do Museu, e por suas atividades de professora ; além disso, é sempre lembrada sua participação em conselhos nacionais, como o Conselho Nacional de Proteção aos Índios, o Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas e o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Ela foi também a primeira representante do Brasil no International Council of Museums - ICOM-UNESCO (Corrêa,1997 ; Miglievitch-Ribeiro, 2019 ; Grupioni, 1988).
Suas pesquisas arqueológicas e etnográficas têm sido pouco enfatizadas ; contudo, não podem ser negligenciadas. Se os trabalhos de campo a legitimaram como arqueóloga, foi com a etnografia, como salientou Castro Faria (1998:204), que o seu trabalho científico ganhou originalidade. Elegeu a cultura expressada “nos produtos da arte” das populações indígenas como objeto de estudo, entendendo “produtos da arte como quaisquer manifestações da indústria humana, originais e peculiares a certos grupos e documentando aspectos do seu patrimônio material ou espiritual de cultura” , como escreveu, em 1937, no trabalho que publicou no primeiro número da Revista do Serviço de Patrimônio Histórico e Científico Nacional, intitulado “Contribuição para o estudo da proteção ao material arqueológico e etnográfico no Brasil” (Torres, 1937 : 24). Na análise comparativa das coleções arqueológicas e etnográficas, verificou os efeitos do tempo histórico nas expressões de arte popular. Estudos anteriores, como o de Ladislau Netto, no século XIX, haviam percebido aquelas transformações como degeneração, decorrentes da luta pela sobrevivência no meio inóspito. Heloisa, longe do determinismo do meio, entendeu-as como uma violência à cultura causada pela colonização, que atingiu os modos de ser e viver das populações indígenas.
A antropologia, durante a década de 1920, era uma ciência em transformação ; dividia-se entre a antropologia física que, com seus métodos osteométricos e análises biológicas, caracterizava a diversidade humana em termos anátomo-biológicos, e a etnologia em termos culturais. A divisão entre antropologia física e etnologia no Museu Nacional fica evidente quando se olha a lista de publicações do Boletim do Museu Nacional, periódico criado em 1923 que, até 1941 publicou, em cada volume, todas as áreas das ciências naturais e, a partir de 1942, foi dividido em séries, apontando a autonomização dessas especialidades [10]. Nas décadas de 1920 e 1930, vê-se que trabalhos da então chamada antropologia física alternavam-se com publicações de artigos etnográficos. Também a arqueologia começava a se fazer presente com trabalhos que tratavam da cultura dos ditos povos primitivos, com os quais os estudos de Heloisa se identificaram. Assim, por exemplo, em 1924, Raimundo Lopes, que ingressara no mesmo Setor do Museu juntamente com Heloisa, publicou no boletim “A Civilização lacustre do Brasil” e vários artigos sobre arqueologia e etnologia indígena [11]. Dentre os artigos que questionavam a divisão do trabalho antropológico à época, alguns merecem ser citados, como o de Paul Rivet, que publicou em 1928, no volume IV do Boletim, “L’anthropologie”, em que discutia as bases da antropologia definindo-a como uma ciência complexa por seu objeto, formado por um conjunto indissolúvel de elementos físicos, culturais e linguísticos [12]. Rivet não via a antropologia como um campo dividido entre antropologia física e etnologia, mas suas análises demonstram ênfase na cultura – como, por exemplo o estudo da linguística, que ao mesmo tempo é fato biológico e intelectual.
A antropóloga em ação : popularização das ciências e trabalhos de campo
Heloisa Alberto Torres adquiriu sua formação científica durante os sete anos de estágio no Setor de Antropologia, Arqueologia e Etnografia do Museu Nacional, em meio às divisões que se operavam no campo da antropologia e que se refletiam também na prática das pesquisas. Inicialmente participou de um projeto de divulgação científica, coordenado por Roquette Pinto, intitulado “Plano de Ensino Popular de História Natural”, que tinha por objetivo divulgar as ciências naturais e a antropologia, produzindo material didático para escolas [13]. Como parte desse projeto, Roquette Pinto criou, em 1923, a Rádio Sociedade, uma estação de rádio na qual Heloisa atuou na secretaria [14]. Os programas da Rádio, com aulas e palestras dos cientistas do Museu Nacional, alcançaram os diversos estados do país. Segundo Castro Faria a legenda da rádio era : “em todos os lares do Brasil o conforto da Ciência e da Arte” (1999 : 316).
Em 1925, deu-se a entrada oficial de Heloisa no Museu Nacional. A sua aprovação no concurso público, em primeiro lugar, foi notícia dos jornais do Rio de Janeiro, que chamaram a atenção para o seu mérito, pois concorrera com cinco homens, encarnando a vitória “do verdadeiro feminismo, que se batia pela emancipação intelectual e sobretudo social e política, da mulher” [15].
Heloisa realizou trabalhos de campo durante toda a segunda metade da década de 1920, fazendo pesquisas arqueológicas, que priorizou, e etnográficas. Em 1925, viajou pelo litoral dos estados de Santa Catarina e Paraná, onde realizou a pesquisa em sítios tupis de enterramentos e em locais de concentração de restos arqueológicos. Buscou inteirar-se da técnica cerâmica dos indígenas e da decoração das cerâmicas dos “tupis orientais” [16]. Nos dois anos seguintes, viajou ao litoral de São Paulo, onde verificou o estado do sambaqui de Iguape [17], e, em Minas Gerais, estudou sítios arqueológicos. Com a mesma finalidade, em 1928 percorreu o estado do Rio de Janeiro, a região do Rio Iriri e a cidade de Magé, rica em cerâmica pintada de tradição Tupi-Guarani. A fim de estruturar as pesquisas e embasar os trabalhos de suas conferências, fez amplo levantamento bibliográfico e analisou as coleções de arqueologia e etnografia do Museu Nacional (Castro Faria, 1998).
Em 1930, Heloisa realizou uma excursão à Ilha de Marajó, no Pará, onde permaneceu seis meses fazendo pesquisas arqueológicas. Realizou escavações e estudos em cinco sítios da ilha, buscando identificar os mound-builders de Marajó (Torres, 1937). Já havia estudado a etnografia da arte marajoara, nos trançados, tecelagem e cerâmicas e feito observações sobre as condições de trabalho dos ceramistas do local (Torres, 1929 : 5). Sobre o trabalho de oleiros, havia observado que no sul do país a fabricação da cerâmica e sua ornamentação eram exclusivamente feitas por mulheres. No Marajó, ao contrário, os homens, que haviam iniciado a arte dos trançados, ocupavam-se também da cerâmica. As mulheres assumiram a tarefa bem mais tarde. Observou ainda que era difícil classificar o trabalho dos ceramistas, devido às condições climáticas, pois a umidade dos terrenos destruía os objetos e, com eles, muito da sua memória social [18].
Em A arte indígena na Amazônia (1940), Heloisa comparou cerâmicas e trançados, mostrando a similitude dos desenhos. Publicou estampas de peças da coleção do Museu Nacional, da Ilha do Marajó e de outros lugares da Amazônia, e descreveu-as nas legendas, indicando que os tamanhos variavam, desde 6, 10, 20 centímetros até 1 metro. Eram peneiras, cestas, urnas funerárias, vasos, bancos, tangas de cerâmica, figuras antropomórficas [19]. Estabeleceu ainda analogias entre trançados e cerâmicas. (fig. 2 e 3)
As peças cerâmicas, “clássicas da cultura de Marajó (gravadas em champ levée)”, foram classificadas por Heloisa. Observou que as condições locais, sujeitas a muita erosão, dificultavam as escavações e prejudicavam a conservação das jazidas arqueológicas ; percebeu a existência de antigos diques e desvios de curso d’água, dizendo que eram verdadeiras obras de engenharia, em decomposição devido à erosão do solo. Os resultados dessa expedição subsidiaram suas observações sobre a proteção da cultura e do meio, publicados, em 1937, no primeiro número da Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Nesse artigo intitulado “Contribuições para o estudo da proteção ao material arqueológico e etnográfico no Brasil”, abordou o saber-fazer de “povos primitivos”, registrados nos restos arqueológicos, que jaziam sob a precariedade das condições ambientais, o que impunha medidas de proteção [20]. Para Castro Faria (1998 : 203), esse trabalho de campo legitimou a produção científica de Heloisa Alberto Torres na arqueologia brasileira.
O interesse de Heloisa pelas coleções era grande, visto que, no referido artigo, apresentou uma relação das coleções arqueológicas (28), etnográficas indígenas (20) e etnográficas negras (3), existentes em 37 museus federais, estaduais e municipais, que se espalhavam pela maioria dos estados do país. A pesquisa no material etnográfico e arqueológico reafirmou o estímulo pela preservação das coleções.
Especificamente sobre a etnografia, no início dos anos 1930 realizou um trabalho que ficou inédito, intitulado “Alguns aspectos da Indumentária da Crioula Bahiana”. Tratava-se de estudo sobre o papel das mulheres nas cerimônias religiosas africanas [21], evidenciando o seu interesse pelo conhecimento do papel social das mulheres, como havia feito com as oleiras. A mesma preocupação apareceria na tese esboçada para um frustrado concurso para a Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, em 1949 [22]. A tese tinha por objetivo estudar o trabalho das mulheres urbanas e a questão racial, utilizando o método antropométrico. O levantamento de dados havia sido feito em pesquisa coordenada por Roquette Pinto, em 1922, no âmbito das comemorações do centenário da independência do país, da qual ela participara. Intitulada “Observações Antropométricas”, ela escreveu apenas dez páginas da tese contendo objetivos e metodologia. Não deu continuidade à pesquisa certamente pelo fato de ter desistido do dito concurso.
Ensino da Antropologia Cultural, Arqueologia e Etnografia
Também, em 1925, Heloísa Torres começaria sua longa trajetória de professora, que contribuiu para aprofundar sua especialização científica. Nesse ano, foi nomeada professora do curso de Antropologia, Arqueologia e Etnografia do Museu Nacional, até então regido por Roquette Pinto. Ao mesmo tempo, passou a dar aulas e proferir conferências públicas. Eram os chamados cursos públicos, existentes desde 1870, que então contavam inclusive com a presença do Imperador. O Museu aderiu aos cursos públicos em 1875, cursos que divulgavam conhecimentos sobre as ciências naturais ao grande público ; os jornais noticiavam os horários e os programas [23].
Nos anos 1920, os cursos públicos - sempre noticiados nos jornais - eram promovidos por diferentes instituições e Heloisa foi convidada a dar aulas em várias delas. Nessas aulas, divulgou seus primeiros estudos arqueológicos e etnográficos sobre a cultura dos indígenas da Ilha de Marajó. Em 1926, deu uma aula sobre a “Cerâmica no Marajó”, no Curso de Alta Cultura e Divulgação Científica, organizado pela Associação Brasileira de Educação. Por ocasião da 36a Exposição Geral de Belas Artes, deu nova palestra sobre a Cerâmica de Marajó, transcrita pelo jornal Correio da Manhã [24]. No mesmo evento, em 19 de setembro de 1929, Heloisa realizou outra palestra, desta vez sobre “Arte Marajoara”, comentada pelo Correio da Manhã, na qual explicava que escavações arqueológicas haviam mostrado que a arte marajoara se originara com a confecção dos trançados, bem anteriores ao fabrico da cerâmica. Esta última chegou à região por onda imigratória vinda dos Andes, em tempos mais recentes [25]. Sobre as “Migrações na América”, ela havia discorrido, em 1927, na Associação de Geografia, quando demonstrou os caminhos percorridos pelos migrantes, vindos dos Andes, até se instalarem no Marajó [26].
Além das aulas no Museu Nacional, foi responsável por cursos em diferentes instituições de ensino superior, no Rio de Janeiro. Em 1936, recomendada por Gilberto Freyre para substituí-lo, foi contratada pela Universidade do Distrito Federal (UDF), como professora de Antropologia Social. Um ano depois, a UDF foi extinta em consequência da chamada Lei de Desacumulação [27], que impedia que uma pessoa ocupasse dois cargos em instituição de serviço público. No mesmo ano, foi contratada como professora de Antropologia e Etnografia, pela Faculdade de Filosofia do Instituto La-Fayette, uma instituição privada, onde começou a lecionar em 1937 e permaneceu até 1964 [28]. Um dos programas do seu curso nessa Faculdade, de 1943, resume as ideias em que baseava suas aulas. O curso intitulava-se Antropologia Cultural e era dividido em quatro tópicos : 1) O campo de estudo da Antropologia Cultural ; 2) O conceito de cultura e o conteúdo da cultura humana ; 3) O estudo das áreas culturais e dos ciclos culturais ; 4) As áreas culturais americanas [29].
Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade do Estado da Guanabara (UEG, hoje UERJ), deu aulas de 1939 até 1965, quando se aposentou por completar 70 anos. O curso pelo qual foi responsável em 1952 intitulava-se Antropologia e Etnografia [30]. e estava dividido em : 1) “Raça, Cultura e Populações Brasileiras” (com temas de discussão sobre testemunho arqueológico, populações pré-colombianas, análise da cultura indígena, o negro, o caucasoide) ; 2) “Problemas Brasileiros” (trataria dos temas : indígena, imigração e mestiçagem) [31]. A Fundação Getúlio Vargas, em 1953, considerando seu prestígio e autoridade na antropologia, convidou-a para dar aulas no curso de aperfeiçoamento sobre Cultura Brasileira Contemporânea, organizado em virtude de um acordo do Governo Brasileiro com a ONU. Era um ciclo de conferências no interior do qual ela falou sobre o Aspecto Antropológico na Cultura Brasileira [32]. Note-se que o fio condutor dos cursos, tal como das suas pesquisas, foi sempre a cultura.
Diretora do Museu Nacional : fomento à pesquisa e a redes científicas internacionais
No Museu Nacional, a bagagem cultural da antropóloga e a experiência na prática científica, adquirida nos trabalhos de campo e nas pesquisas em coleções museológicas e bibliográficas, orientaram suas ações. Quando assumiu o cargo de diretora da instituição, o país assistia ao início da ditadura de Getúlio Vargas – o Estado Novo, instituído em 1937. Como diretora do museu, teve oportunidade de planejar as pesquisas de campo das ciências naturais e antropológicas, com vistas, entre outros, a conhecer a diversidade cultural da sociedade brasileira e a promover uma política científica do país. Nesse sentido, Heloisa buscou impulsionar, imparcialmente, todas as áreas científicas do Museu : antropologia, arqueologia, paleontologia, botânica, geologia e zoologia. Um dos seus primeiros passos foi estabelecer um programa de colaboração internacional, incentivando a ida de especialistas brasileiros ao exterior e a vinda de estrangeiros ao Brasil, o que possibilitou a circulação internacional de conhecimentos e a cooperação entre cientistas.
Aproveitando-se da conjuntura política internacional, a colaboração científica no Museu Nacional, ainda muito restrita à Europa, foi intensificada com os Estados Unidos. Diante de um revival do panamericanismo - movimento nascido no século XIX, sob o slogan “A América para os Americanos” – que naquele momento fazia um contraponto à Guerra Fria que se avizinhava, Heloisa obteve apoio de agências norte-americanas, como as fundações Rockefeller, Gugenheim e Smithsonian Institution.
Naturalistas do museu foram para os Estados Unidos, com financiamento norte-americano [33]. Na via contrária, dos Estados Unidos para o Brasil, projetos importantes se desenvolveram, como a parceria estabelecida com George Sprague Myers (1905-1985), da Universidade de Stanford, com o objetivo de realizar estudos sobre a pesca no Brasil, visando suprir e aumentar a produção de alimentos durante e após a guerra (Sá e Brito, 2018 : 13). Em 1941, a convite de Heloisa, chegou ao Brasil Joseph Bailey para estudar as coleções de zoologia do museu ; estudos de arqueologia foram realizados pelo casal Betty Meggers e Clifford Evans, no início dos anos 1950, com recursos próprios, mas Heloisa os receberia no Museu Nacional, facilitando todos os trâmites de viagem para a Amazônia, onde realizaram suas pesquisas, inclusive no Marajó [34]. No entanto, o livro de Meegers, Amazônia um paraíso ilusório, publicado em 1976, simultaneamente no México e no Brasil, não faz referência a Heloisa, embora apresente grande similitude com suas ideias, na interpretação da cultura indígena [35].
A Antropologia foi particularmente contemplada com seu projeto de incentivo aos jovens antropólogos, brasileiros e estrangeiros, para realizarem trabalhos de campo no interior do país, com vistas ao conhecimento das culturas, especialmente dos povos indígenas. Nesse sentido, Heloisa articulou contatos com Franz Boas e Paul Rivet.
As relações de Paul Rivet com o Museu Nacional datavam dos anos 1920 ; ligado a ele, o então jovem antropólogo Alfred Métraux (1902-1963) visitou o Museu Nacional também no final da década de 1920, apresentando-se em nome de Rivet, e ouviu de Heloisa que os discípulos de Rivet seriam sempre recebidos de coração aberto no Museu Nacional [36]. Heloisa e Rivet desenvolveram relações científicas e de amizade, o que se percebe na intermitente correspondência que mantiveram durante a primeira metade do século XX [37]. Rivet, como diretor do Musée de l’Homme, apresentou Claude Lévi-Strauss ao Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas, para realizar o estudo sobre os Nambiquaras, no Mato Grosso, em 1938 [38]. O Conselho condicionou a viagem a um acompanhante brasileiro e Heloisa, como um de seus membros, indicou o jovem antropólogo Luiz de Castro Faria (1913-2004) [39] (fig. 4).
O plano de engajar antropólogos iniciantes em pesquisas de campo como forma de auxiliar a formação de jovens antropólogos brasileiros fez com que Heloisa entrasse em contato com Franz Boas, na Universidade de Columbia, no Estados Unidos. Ele tornou-se, efetivamente um colaborador do projeto da então diretora do Museu, estimulando novos e antigos discípulos a viajarem ao Brasil, e dando a cada um deles uma carta de apresentação. A partir de 1937, começaram a chegar ao país William Lipking, Buell Quain, Ruth Landes e Charles Wagley, todos com financiamento do Social Sciences Research Council da Universidade de Columbia. No Museu Nacional, eles seriam supervisionados por Heloisa Alberto Torres, conforme assinalou Wagley, em 1946 [40]. Os trabalhos de campo por eles realizados sobre os povos indígenas, concentraram-se na Amazônia e no Brasil Central. Heloisa, de um lado, e Ruth Benedict, de outro, supervisionavam de perto os trabalhos dos jovens antropólogos, como mostra a correspondência entre elas. Nessa correspondência discutiram o chocante suicídio de Buel Quain aos 27 anos de idade, quando estava em trabalho de campo junto aos Trumai e os Krahó, no Xingú [41].
Daquelas pesquisas de campo, resultaram estudos importantes sobre a cultura e a geografia das sociedades indígenas do Brasil. William Lipking realizou estudos sobre os índios Carajás, em Goiás, em Conceição do Araguaia e no Pará [42]. De todos eles, Charles Wagley foi quem realizou o maior número de pesquisas e quem por mais tempo manteve relações com o Brasil, com numerosas publicações. Iniciou seus estudos em 1939, no Mato Grosso, nos quais abordou a religião e a aculturação dos Tapirapé, inspirado em Ralph Linton, de quem fora aluno [43]. O estudo sobre aculturação foi publicado em 1943 [44]. Em 1941, voltando ao Brasil, realizou estudo sobre os Tenetehara, ao lado de Eduardo Galvão, um dos jovens antropólogos do Museu Nacional. Deste trabalho resultou a publicação de The Tenetehara Indians of Brazil (1946). Em 1942, trabalhando no Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), na Amazônia, Wagley realizou novas pesquisas, entrando em contato com problemas sociais, lendo relatórios técnicos de médicos, o que lhe deu profunda visão dos habitantes da região, conforme observou na Introdução de Amazon Town.
O trabalho de Wagley interessou particularmente a Heloisa. Em dezembro de 1940, Franz Boas escreveu-lhe dizendo que o Presidente da Divisão Latino-Americana da Guggenheim Foundation, Adelette, estava interessado no seu plano de dar oportunidade de “treinamento” aos jovens cientistas brasileiros :
It seems to me that the plans which you discussed with dr. Lipking when he was in Rio might very well fall in line with such a plan. We have an application to the Guggenheim Foundation for a fellowship for Lipking, the idea being that he should continue his researches, particularly with the view of working with younger Brazilian scientists to let them profit from his practical experiences and theoretical knowledge. I do not think that I need to recommend him to your consideration. Undoubtedly you know in outline what he has been doing in Brazil. My idea would be that if anything of this kind could be arranged, that work should be in your charge in the Museum, and that would you see to it that the educational side of the problem would receive its proper attention. [45].
Heloisa respondeu-lhe dizendo que já havia escrito a Adelette ; ela fez também uma crítica ao trabalho de Lipking, dizendo que ele não havia cumprido as regras do programa, pois não entregara o relatório do trabalho realizado. Terminou dizendo que o trabalho de Wagley havia despertado grande interesse [46].
Em 1948, sob os auspícios do projeto do Instituto Internacional da Hileia Amazônica, Wagley e Galvão realizaram pesquisas em Gurupá, no Pará. O trabalho resultou nos livros Amazon Town (1953), de Wagley, e Santos e Visagens (1955), de Galvão. Este o finalizou no doutorado, realizado em Columbia, sob orientação de Wagley. O trabalho por eles realizado em Gurupá, seguindo o plano do IIHA, foi uma etnografia da cultura das populações locais, com um forte enfoque ecológico [47].
O projeto de Heloisa de formação e aperfeiçoamento dos jovens antropólogos do Museu Nacional contou também com a participação de Raimundo Lopes da Cunha (1894-1941), uma referência na formação daqueles jovens. Ele realizou pesquisas importantes sobre a pesca e a arte plumária dos indígenas no Maranhão, seu estado natal, e transmitiu sua experiência a jovens pesquisadores como Eduardo Galvão e Luiz de Castro Faria. Sua experiência foi das mais ricas e completas no tratamento dos problemas humanos de população e de cultura, salientaria Castro Faria (2010). O reconhecimento do trabalho de Raimundo Lopes se materializaria na publicação póstuma do seu livro Antropogeografia (1956), a cargo de Heloisa. Raimundo Lopes distinguia antropologia – “ciência que estuda o homem físico, sob o ponto de vista biológico” - e etnologia – “ciência que estuda os grupos humanos sob o ponto de vista cultural e social”. Para ele, antropogeografia relacionava etnologia e geografia humana, que entendia na tradição francesa de Vidal de La Blache e Jean Brunhes ; citava ainda o livro de Lucien Febvre, La terre et l’évolution humaine (1922), em que tratava de observar o habitat humano e a cultura em relação ao meio terrestre, entendo-os como conhecimentos interdependentes (Cunha, 1966:82).
Planejando a política e impulsionando a cultura científica nacional
Após a Segunda Guerra mundial, no contexto do crescente interesse pelas regiões tropicais despertado tanto em cientistas quanto em políticos preocupados com a exploração econômica, o governo brasileiro instituiu, pela Constituição de 18 de setembro de 1946 – art. 199 e parágrafo único, o Plano de Valorização Econômica da Amazônia. Foram destinados 3 % dos recursos provenientes das rendas tributárias da União, durante pelo menos vinte anos, ao desenvolvimento econômico da Amazônia, prevendo a realização de projetos privados e estudos que verificariam os potenciais da região. Tais estudos objetivavam a efetiva ocupação, domínio e exploração econômica dos grandes vales equatoriais do Brasil [48].
Ao mesmo tempo, havia interesse político e científico na exploração de minerais atômicos (tório, uranio), em função da bomba atômica e, principalmente, da energia nuclear. Ciências naturais, antropologia ou proteção às culturas e sociedades indígenas já não se mostravam uma prioridade. Nesse contexto, o Museu Nacional perdia, de certa forma, força política. A situação ficou evidente, em 1946, quando foi incorporado à Universidade do Brasil, com prerrogativas de Escola e Faculdade, integrado ao Fórum de Ciência e Cultura. Em reunião com o Reitor da Universidade, em maio daquele mesmo ano, Heloisa declarou que “a inclusão de um museu de caráter nacional na estrutura de uma universidade não aconteceria em lugar nenhum do mundo e, além do mais, ninguém no Museu era a favor daquela anexação” (Domingues 2010 : 627) [49].
O Museu Nacional tinha sofrido uma crise, um ano antes, quando irrompeu um forte movimento para destituir Heloisa do cargo de diretora, movimento liderado por um grupo de cientistas da casa, entre os quais o geólogo Othon Leonardos, candidato ao cargo. O grupo contestava as ações da então diretora, alegando que, ao invés de investir em obras de restauração do prédio do Museu, ela estaria investindo em exposições para o público. Na consulta pelo voto, Leonardos foi o mais votado, segundo o Diário de Notícias de 25 de outubro de 1945 ; diante disso, Heloisa chegou a ser exonerada, mas a eleição foi anulada, pois como o diretor do Museu era nomeado pelo Ministro, a consulta pelo voto foi considerada sem efeito [50]. Um amplo movimento de apoio, ela recebeu de colegas e funcionários do Museu e de um grupo de intelectuais brasileiros, liderados pelo jurista, positivista, Alberto Venâncio Filho, que encabeçou um abaixo-assinado, endereçado ao Ministro da Educação e Saúde, Ernesto de Sousa Campos, solicitando a permanência de Heloisa.
Após o episódio, com ânimo redobrado e inconformada com a mudança do Museu para a Universidade, Heloisa elaborou uma proposta política para as ciências naturais e antropológicas, ainda em 1946. O documento, que foi dirigido ao Reitor da Universidade com o título “Promoção de um Inquérito nacional sobre Ciências Naturais e Antropológicas”, significava uma tomada de posição política, pois previa que fosse aplicado o método científico à resolução dos problemas humanos [51]. O inquérito deveria considerar pelo menos duas questões importantes : 1- o conhecimento científico da natureza associado à cultura que lhe era inerente, criticando os métodos de exploração que vinham sendo praticados, os quais ’podiam auferir lucros imediatos, satisfazendo a alguns poucos’ ; 2- a utilização econômica da natureza sem risco de destruir os bens que encerra ou de prejuízo ao seu equilíbrio biológico, lançando, implicitamente, uma visão ecológica da natureza e contrapondo-se às prioridades econômicas da política científica.
A mesma relação das ciências naturais com a política norteou o projeto do Instituto Internacional da Hileia Amazônica (IIHA), do qual Heloisa foi ativa participante. Escrito pelo bioquímico Paulo de Berredo Carneiro, o projeto foi apresentado, em 1946, pela delegação brasileira na primeira reunião geral da UNESCO, ganhando o apoio de Julien Huxley, primeiro Diretor Geral daquela instituição, e sendo aprovado como um projeto prioritário. O projeto do IIHA previa reunir os países que integravam a região amazônica [52] e tinha por objetivo transformar a Amazônia equatorial “num pródigo fator de bem-estar para a comunidade humana”. Daí a proposta de um centro internacional de ciências destinado ao conhecimento da natureza tropical, propício à adaptação humana [53].
Heloisa, não somente abriu as portas do Museu Nacional para que os organizadores do IIHA ali se reunissem, como foi nomeada Delegada do Brasil para a reunião de criação, realizada em Belém, Pará, em 1947, e para a Conferência de convenção do IIHA, realizada em Iquitos, no Peru, em 1948 [54]. No Peru, Paul Rivet e Heloisa, se reencontraram. Rivet representava a França e foi nomeado presidente da comissão científica ; Heloisa o secretariou e acabou eleita presidente interina do Instituto. Participou também da reunião Alfred Métraux, então na ONU. Nas Atas daquela Reunião ficou registrado que os trabalhos de campo do Instituto deveriam ter a supervisão de antropólogos, buscando preservar a integridade das populações locais. Para tal, “realizariam estudos sobre as atividades de preservação e desenvolvimento das culturas e da educação” [55] – certamente um traço do pensamento de Heloisa.
Na primeira reunião da Comissão Interina do IIHA, em Manaus, também em 1948, Heloisa foi eleita, por unanimidade, Presidente da Comissão Interina do Instituto, com o voto dos nove países integrantes do projeto. Como representante do Instituto, em 1949, participou da Reunião Geral da UNESCO, em Paris. Falou sobre o projeto do IIHA e, ao explicar a importância da presença de um etnólogo nas expedições, argumentou que “uma pessoa que não conhecesse a cultura dos grupos humanos e preconizasse métodos inadequados, corria risco de dar um golpe mortal na organização econômica e social destas populações e de dar lugar a estados psíquicos desastrosos” [56].
No momento da sua fala, na reunião da UNESCO, no Brasil, o projeto do IIHA estava sendo votado pelo poder legislativo, que o rejeitou. Alegando temor de que as fronteiras “nacionais” fossem apagadas, deputados e senadores o consideraram um projeto imperialista. A rejeição deixava claro que havia preponderância de interesses político-econômicos que não renunciavam a antigas práticas de exploração coloniais [57]. No IIHA preponderava a ecologia.
Em 1952, com financiamento da UNESCO e do CNPq – Conselho Nacional de Pesquisas, Heloisa lançou o projeto Arraial do Cabo, Rio de Janeiro, com o objetivo de estudar o impacto ambiental que causaria a instalação de uma indústria química naquele local. O trabalho reuniu pesquisadores de todas as áreas do Museu Nacional e contou com a participação do ecologista americano, Stanley Cain, nomeado pela UNESCO. Em palestra na Academia Brasileira de Ciências, em 12 de abril de 1955, Cain definiu a ecologia como “a ciência das relações recíprocas entre os organismos e o seu meio’. Chamou a atenção sobre os fatores históricos dessas relações, que se expressavam nas condições sociais, na política colonialista e na economia da indústria extrativista. “O ecossistema é humano”, sublinhou Cain [58].
Em 1955, quando deixou a direção do Museu Nacional, Heloisa Alberto Torres era uma autoridade reconhecida no país e no exterior, como se vê nos documentos do seu arquivo. Além da atuação institucional, realizou consultorias para projetos como o da reforma do ensino do país, inclusive a universitária, que instituiu a Faculdade Nacional de Filosofia, nas universidades públicas do país, em 1939 [59]. Em 1955, assim que deixou a direção do Museu, participou da criação da Associação Brasileira de Antropologia [60]. Entre 1972 e 1976, participou ainda da criação do primeiro Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. Ligado a essa iniciativa, criou a Casa de Cultura Heloisa Alberto Torres, na cidade de Itaboraí, Estado do Rio de Janeiro, cidade natal de sua família e que abriga o seu arquivo pessoal [61]. A imensa correspondência trocada com inúmeros cientistas, de todos os continentes, e com políticos, reafirma o seu reconhecimento intelectual e institucional.
A arte indígena para a produção científica
Heloisa apresentou o valor social da cultura marajoara (material e imaterial) nas suas primeiras palestras e publicações sobre os trabalhos arqueológicos realizados no Baixo Amazonas. Fez um resumo histórico das escavações iniciadas nos anos 1870, pelos geólogos Carlos Frederico Hartt e Orville Derby e pelo naturalista Ferreira Penna, que revelaram o rico material arqueológico da Ilha do Marajó [62]. Fato que, para Heloisa, desmobilizava “a má fama que americanistas reputaram às terras do Brasil, por não terem sido ali encontrado monumentos que representassem culturas indígenas” [63].
Heloisa mostrou que a cerâmica, tida como marco cultural das sociedades ditas primitivas, não o foi no Marajó, pois ali, os trançados – as cestarias – que a antecederam, seriam marco daquela cultura. Ao falar nas cerâmicas do Marajó, ela apontou resultados arqueológicos mostrando que os marajoaras, muito antes da chegada dos andinos, “evidenciaram alta especialidade artística, na sofisticada arte dos trançados e as reproduziram na modelagem” (Torres, 1929). Concordava com Max Schmidt (1854-1950), que a técnica ditava os motivos dos desenhos [64]. No entanto, condições climáticas adversas, como o terreno úmido, destruíram objetos, como talhas, trançados, tecidos, fazendo desaparecer parcela da memória daquelas populações [65].
Argumentou que havia uma relação entre a cultura material e o meio, pois condições [bio]geográficas estimularam os conhecimentos e a criação de objetos de uso, a exemplo dos vasilhames para acondicionar líquidos. A necessidade desses vasilhames, nos Andes, desprovidos de matas, foi suprida com a cerâmica, que requeria conhecimentos, como o fogo e o processo de cozimento. Na bacia do Amazonas e nas Guianas, havia riquíssimas plantas que se prestaram aos trançados. Embora as cestas requeressem apenas as mãos para a sua execução, contribuíram para desenvolver apurado conhecimento botânico das plantas que se prestavam aos trançados e das que produziam resinas, com as quais as populações realizavam o sofisticado trabalho de impermeabilização das cestas, lhes permitindo acondicionar o líquido [66]. De acordo com Heloisa, na palestra “Cerâmica do Marajó”, “o uso do trançado impermeabilizado era costume encontrado entre outros povos da América do Sul, não por ignorância da cerâmica, mas porque era de maior portabilidade”. Para ela, “aqueles indígenas viviam como primitivos, porém num estágio cultural avançado e, principalmente, com um conhecimento da natureza como ninguém” (Torres, ibid). (fig. 5 e 6)
As migrações estavam no cerne da formação cultural das sociedades, segundo ela. A arte marajoara vinha do alto Amazonas, da Venezuela, Colômbia, América Central e, sobretudo das Antilhas – centro irradiador do conhecimento cerâmico para toda a América, do sul ao norte. Na sua análise da migração da cultura, há traços das ideias de Rivet sobre o forte papel das migrações na América, ao salientar que, no século XV, quando se deu o “cruzamento das culturas”, o índio americano incorporou a herança dos povos e enriqueceu a sua própria cultura. Da mesma forma, Heloisa concluiu que a riqueza formidável e a concepção artística dos marajoaras só podiam ser o resultado de uma intensa “aculturação” [67]. O que reafirmaria em 1940, fazendo analogia entre trançados e cerâmicas, no pequeno livro A Arte Indígena na Amazônia.
Contudo, se a arqueologia mostrava que a trajetória dos conhecimentos cerâmicos, até chegar à Ilha do Marajó em tempos remotos, não era diferente da ideia de Rivet, a análise etnográfica fez com que Heloisa desenvolvesse trabalho original. Ao confrontar registros arqueológicos, que mostravam a exuberância da cultura marajoara, com os dados etnográficos do presente (que além da arte levavam em conta modos de vida dos indígenas), Heloisa percebeu que estes desnudavam uma realidade marcada, indelevelmente, pela memória do passado colonial. O pioneirismo da sua análise sobre a arte indígena fica mais evidente quando se observa a imagem da tanga feminina (“cache-sexe”), de cerâmica, encontrada no Pacoval. A tanga pode ser tomada como emblemática da memória da nudez que a moral colonial, de que fala Heloisa, impôs o encobrimento (fig. 7 e 8).
Na etnografia as evidências da “deculturação”
No referido artigo, de 1937, Heloisa reportou-se ao trabalho de campo que realizara na ilha de Marajó, onde foi impactada pelo cotidiano da população local. Aludindo à destruição da cultura indígena, afirmou que : “Há quatro séculos [de colonização] não temos feito outra coisa senão proceder junto ao indígena de modo a fazê-lo acreditar na sua inferioridade”, o que o impedia de desempenhar o papel que o seu nível cultural permitia. Todo o mal, dizia ela, foi pretender deslocá-lo do seu quadro e destruir a cultura que regia sua vida, oferecendo-lhe outra que ainda não era capaz de aproveitar (Torres, 1937 : 26). Deviam poder escolher o que lhes aprouvesse do que já conheciam da “nossa cultura”. A colonização havia aniquilado a sua cultura e sentiam-se estrangeiros dentro do próprio meio, isto é, “deculturados”. Ela indignava-se ao pensar que ao ouvir o motor de um barco o indígena acorreria às margens do rio, suplicando que o levassem à cidade, pois o próprio meio lhes inspirava repulsa. Viam-se “incapazes de viver naquele meio em que nasceram e onde teriam passado uma existência industriosa, livre e honesta, se uma deculturação brusca não lhes tivesse desajustado completamente as condições de vida” [68].
A palavra deculturação não era corrente na antropologia, mas também não era ignorada. Certamente, decorria de aculturação, este sim um termo conhecido e em debate entre os antropólogos, no qual Heloisa se incluia [69]. Em 1935, o Social Sciences Research Council, reconhecendo a importância de estudar os vários pontos de vista sob os quais o problema da aculturação era abordado, nomeou três antropólogos conhecidos, Robert Redfield, Ralph Linton e Melville J. Herskovits para analisarem as implicações do termo aculturação e investigarem novas maneiras de abordá-lo [70]. O primeiro resultado foi o célebre “Memorandum for the Study of Acculturation” (1936). Este não falava em deculturação, mas falava, por exemplo, em desigualdade, considerando que os fenômenos de aculturação incluíam a adoção seletiva de características culturais, gerando diferentes relações entre culturas, novos tipos, novas técnicas, resistências à inovação, etc. (Redfield, Linton e Herskovits, 1936 : 151).
Segundo Heloisa, “os exemplos da desmoralização dos índios causados por deculturação podiam ser apontados quase que em cada história de contato de civilizado com o índio” [71]. Com o colonizador, “a paisagem material mudou completamente e, de modo mais nefasto ainda, o quadro moral” (Torres, 1937 : 26). As diretrizes econômicas que “regeram a sua vida até então, foram subvertidas completamente”. Na sua visão, “era a desgraça que entrava” [na casa e na vida deles]. Do ponto de vista psíquico, Heloisa observou que as novas crenças [religiosas] que se impunham, não chegaram a destruir as velhas, nem penetraram profundamente na alma, mas as abalaram sensivelmente. “O descrédito invadiu os espíritos ; o desânimo e a pobreza se seguiram irremissivelmente”, afirmou ela [72].
A solução que se lhe apresentou, para reverter aquela situação, foi uma proposta política ; e Heloisa argumentou peremptoriamente que “a chave do problema residia na demarcação das terras indígenas”. As terras deveriam ser dimensionadas a fim de garantir o sustento sem ajuda, e estar conforme às normas econômicas peculiares a cada grupo (caça, pesca, agricultura). “Aculturação” ou a desigualdade, moldando uma identidade cultural, deveria ser livre escolha de cada grupo. Identificada ao debate teórico internacional da etnologia, ela trazia uma perspectiva prática e política para os descaminhos sociais da cultura.
Considerações finais
Nos lineamentos da teoria antropológica de sua época, Heloisa Alberto Torres encontrou o fio condutor para o desenho de uma perspectiva teórica plena de originalidade. No estudo da arqueologia, se empenhou em compreender a unidade humana, sem desconsiderar a diversidade étnica e cultural e o desenvolvimento histórico evidenciado nas transformações físicas, culturais, sociais e políticas das populações. Pela etnografia, expressou uma visão crítica do etnocentrismo, que a levou a relacionar ciência e política. A antropologia cultural, para a qual Heloisa se inclinou, não era entendida fora do campo das ciências naturais, pois o homem, vivendo em sociedade, era parte e agente da natureza e, como tal, deveria ser estudado. Esta perspectiva, para ela afeita à antropologia cultural, derivaria para a antropologia ecológica em meados do século XX, também chamada de ecologia humana, ligada à nova ciência – ecologia [73]. Vendo, assim, as ciências naturais e antropológicas sob uma ótica sociocultural, Heloisa Alberto Torres converteria uma posição teórica em posição política.
Como se viu, ela valorizou a arqueologia e a etnologia, relacionando o passado e o presente das culturas, no interior de uma historicidade perpassada pela colonização e representada na expressão dos modos de pensar e de organizar o cotidiano. A colonização resultou na deculturação. Daí ter proclamado a proteção da “cultura original dos índios”, definida geograficamente e no bojo de movimentos de migração, em trocas e encontros de saberes, entre povos distintos. A perspectiva da aculturação, então em voga, não a impedia de chamar atenção para a criação de identidades que, distintas entre si, carregavam autonomia e traços étnicos. O poder colonial, na sua visão, buscando impor uma igualdade de pensamento – uma outra cultura – é que teria instituído a desigualdade social. Daí a violência cultural que ela flagrou e que no qual investiriam toda uma tradição de estudos sociais, desde pelo menos o célebre memorandum de Herskovits, Redfield e Linton.
Lembremos que a associação veemente dos objetivos científicos e políticos das pesquisas, pelos quais Heloisa lutou com toda a sua força, ressurge nas vozes negras e indígenas, cada vez mais audíveis na sociedade e na academia brasileiras, mas esta é outra história, que escapa aos objetivos deste texto.
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Arquivo do Musée de l’Homme, Paris