Abstract : French ethnographer Michel Giacometti (1929–1990) became an essential figure in the history of Portuguese anthropology. With a focus on his life trajectory and considering various works and exhibits dedicated to him as well as archival material, this article highlights the intellectual, political and even existential motives behind his strenuous safeguarding of folk culture – particularly folk music – in Portugal. Giacometti was part of and contributed to weaving a network of anti-fascist resistance that lasted beyond the “Carnation Revolution” of 1974. In this perspective, Giacometti’s ethnomusicology is inseparable from the fact that he both shared and built a culture of resistance and public intervention, the Portuguese Communist Party (a clandestine organization during Salazar’s dictatorship) being a point of reference in this process. Giacometti founded the Arquivos Sonoros Portugueses (Portuguese Sound Archives) soon after his arrival in Portugal in the late 1950s, and from then on, his anthropological praxis was subtly but steadily oriented towards a cultural and civic militancy that was revolutionary. The article reveals how Giacometti’s activities during the democratic transition process in the 1970s culminated in the creation of the Museu do Trabalho (Labour Museum), an institution that today bears his name, and the Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria, which play a leading role in the enhancement of his legacy, along with other institutions that preserve his vast collection of materials. The present article is thus a biography of Giacometti, somewhere between ethnographic praxis and political intervention.
Um etnógrafo corso em Portugal: uma biografia de Michel Giacometti
CIES, Iscte-IUL
Departamento de História, Iscte-IUL
Oliveira, Luísa Tiago de, 2023. “Um etnógrafo corso em Portugal: uma biografia de Michel Giacometti”, in BEROSE International Encyclopaedia of the Histories of Anthropology, Paris.
URL BEROSE: article2787.html
Published as part of the research theme «History of Portuguese Anthropology and Ethnographic Archives (19th-21st century)», directed by Sónia Vespeira de Almeida (CRIA/NOVA FCSH, Lisbon) and Rita Ávila Cachado (CIES-IUL, Lisbon)
Introdução
Michel Giacometti (1929-1990) representa uma figura incontornável para a etnomusicologia em Portugal, tendo alargado o seu trabalho a várias áreas. [1] Neste texto, parte-se da sua biografia, atendendo aos vários momentos do seu percurso e às obras já editadas ou existentes em museus, para se procurar averiguar como procurou salvaguardar a cultura popular do “nosso povo” [2]. Marcado por uma imagem algo solitária e itinerante, atendem-se aos vários contextos sociais, políticos e culturais em que se moveu o etnógrafo corso, procurando encontrar conexões com redes que integrou e edificou.
1. Os anos do andarilho
Michel-Marie Giacometti nasceu em Ajaccio (Córsega - França) a 8 de Janeiro de 1929. Ficou órfão de mãe muito cedo, pelo que foi criado pelos tios maternos na Argélia, então colónia francesa. Seguidamente, voltou a França, tendo vivido na Córsega e em Paris, onde estudou música, arte dramática e etnografia. Em França, trabalhou, dedicou-se ao teatro (participando num grupo que representou, entre outros dramaturgos, Albert Camus) e relacionou-se com o mundo das artes, letras e humanidades, tendo conhecido Juliette Gréco, Roger Planchon, Maria Helena Vieira da Silva e, através desta pintora, a cultura portuguesa [3].
Esteve nos países nórdicos, em especial na Noruega, onde trabalhou numa fábrica [4]. De acordo com o próprio Giacometti, foi nessa fábrica que se interessou pela etnologia, através do contacto com um etnólogo, também operário como ele [5]. Percorreu também a região mediterrânica, dedicando-se ao projecto Mediterranée 56 que, segundo o próprio, organizou com o intuito de conhecer as tradições populares das ilhas do Mediterrâneo [6].
Em Paris, esteve hospitalizado por tuberculose e conheceu uma enfermeira portuguesa, Isabel Ribeiro, com quem casou [7].
Na convalescença, recém-casado, veio a Portugal em 1958 e aqui se fixou em 1959. Tinha então 30 anos. Nessa altura, já encontrara no Musée de l´Homme, em Paris, o livro póstumo de Kurt Schindler, Folk Music and Poetry from Spain and Portugal (1941), que originou o seu interesse e a sua primeira paixão por Trás os Montes [8].
Em 1959, fundou os Arquivos Sonoros Portugueses, compostos por registos musicais e orais, a que se foram juntar fotografias e artefactos populares, como adiante se verá. O âmbito destes Arquivos parecia ser lato desde o início, ainda que mais tarde se tenha ainda alargado. Escrevia-se já em 1961:
Portugal – Archives Sonores – Lisbonne – vient de fonder l´association Arquivos Sonoros Portugueses qui se veulent un authentique musée où seront réunis les documents sonores les plus divers comme les enregistrements folkloriques du monde entier, les témoignages des évènements contemporains, les bruits et les voix de notre temps [9].
Quando começaram a sair os primeiros discos com a assinatura de Giacometti, vários intelectuais com presença nos jornais e revistas, como Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013), João de Freitas Branco (1922-1989), Mário Dionísio (1916-1993), Francine Benoît (1894-1990), João Gaspar Simões (1903-1987), entre outros, traçaram o perfil do jovem corso que aportara a Portugal ou comentaram o seu trabalho. Muitos apontamentos biográficos anteriores à vinda de Giacometti para Portugal, assim como dos seus primeiros tempos no país, são comuns a vários artigos [10].
A revista Arte Musical, órgão da Juventude Musical Portuguesa, apresentava deste modo Giacometti:
Nestes últimos anos, a investigação do folclore musical português tem sido praticada por um estrangeiro que, embora não seja propriamente um músico, está desenvolvendo uma actividade que se nos afigura útil. Michel Giacometti (...) estudou Letras e Etnologia. Como escritor, publicou o folheto de poesias Melika, prestou colaboração em Simoun e Les Cahiers du Sud e fundou as revistas Igloo e Ferments. Dedicando-se à crítica de arte, escreveu artigos sobre ’A arte popular jugoslava’, ’Derain escultor’, ’Chaim Soutine’, ’Um santo da pintura’, etc. Como jornalista, percorreu muitos países e publicou inúmeras reportagens em Pourquoi Pas (Bruxelas), Radio je vois tout (Lausana), Twindens Kwinder (Copenhaga), Constanze (Hamburgo) e La Revista (Barcelona). [11]
O artigo tratava também da missão Mediterranée 56, das vindas de Giacometti a Portugal e da sua responsabilidade por “uma série de emissões na Université Radiophonique Internationale sobre o folclore musical português’. Abordava, em especial, a edição dos primeiros discos, chamando a atenção para a importância da colaboração com o musicólogo e compositor Fernando Lopes Graça (1906-1994). Sobre esta colaboração, o artigo referia:
Dado que Michel Giacometti não é músico, torna-se especialmente importante saber em que consiste a colaboração de Fernando Lopes Graça de que tem beneficiado. De um comunicado que recebemos dos Arquivos Sonoros Portugueses, extraímos o seguinte parágrafo: «Michel Giacometti passou três meses em Trás-os-Montes, percorreu mais de 6000 km, bom número dos quais a cavalo e a pé, viveu em quarenta e cinco aldeias nas zonas mais retiradas da província e gravou em banda magnética quinze horas de música, entre as quais Fernando Lopes Graça escolheu os quarenta e cinco minutos de música que compõem este primeiro disco. [12]
Desde 1960 e até 1970, Giacometti empreendeu a edição da Antologia da Música Regional Portuguesa, com a chancela dos Arquivos Sonoros Portugueses, tendo saído os discos Trás-os-Montes (1960), Algarve (1961), Minho (1963), Alentejo (1965), Beira Alta, Beira Baixa, Beira Litoral (1970). Nestes discos, a recolha é remetida para Michel Giacometti, enquanto as notas sobre o contexto etno-musicológico são atribuídas ao próprio e a Fernando Lopes Graça. Com as suas capas inovadoras, não em papel plastificado como era habitual, mas em serapilheira rústica, os discos desta Antologia ficaram conhecidos como os “discos de serapilheira”, tendo passado pelas oficinas do Jornal do Fundão, título da imprensa regional da Oposição ao Estado Novo, em cujas instalações foram impressos os textos que acompanhavam muitos dos discos de Giacometti, bem como as suas capas emblemáticas. Os “discos de serapilheira” foram distribuídos e vendidos nos meios culturais através das redes da Oposição. Apesar de não ter produzido qualquer disco na Antologia sobre essas duas regiões, Giacometti gravou ainda na Estremadura e no Ribatejo [13].
Muito relevante, a Folkways Records, propriedade da Smithonsian Institution (EUA), editou 2 dos discos da Antologia da Música Regional Portuguesa com a etiqueta Ethnic Library (1962). Esta Antologia foi ainda recomendada pelo International Institute for Comparative Music Studies and Documentation e pelo International Music Council. Contudo, em Portugal, a tiragem dos vários “discos de serapilheira” foi modesta: regra geral, foi de 300 exemplares, ainda que de alguns discos tenha havido reedições, de 100 exemplares cada.
Giacometti conseguiu também a edição, em França, de discos de música tradicional portuguesa, com a chancela Le Chant du Monde. O seu nome aparecia em edições como Fados (1960), Chants et danses du Portugal. Trás-os-Montes (1960), Visages du Portugal (1969), coincidindo parte das peças musicais com aquelas que tinham saído em Portugal. Também na Alemanha fez sair gravações na obra Lieder aus Portugal (1969).
Para além da Antologia da Música Regional Portuguesa, Michel Giacometti e os seus numerosos e diversos colaboradores editaram em Portugal, nessa época, os discos Oito Cantos Transmontanos (1961), Vozes e Imagens de Trás-os-Montes (1961), Cantos Tradicionais do Distrito de Évora (1965), Bailes Populares Alentejanos (1968), Bonecos de Santo Aleixo (1968), Cantos Religiosos Tradicionais Portugueses (1971), Pequena Antologia da Música Regional Portuguesa (1971) e Alentejo. Música Vocal e Instrumental (1974) [14]. Com excepção dos três últimos discos, todos os outros saíram sob a chancela dos Arquivos Sonoros Portugueses.
Estes Arquivos foram ainda responsáveis, em 1970, pela edição de vários discos de Fernando Lopes Graça, incluindo Cantares do Mundo, assim como de Seis Cantigas de Amigo do músico e cantor José Mário Branco (1942-2019). Giacometti participou também em documentários cinematográficos, tendo sido dois emitidos pela RTP: O Alar da Rede na Pesca da Sardinha - Algarve em 1962 e, no ano seguinte, Rio de Onor. Uma reunião do Conselho [15].
Também efectuou programas radiofónicos e televisivos. No caso da rádio, serão cerca de 60 programas para a Emissora Nacional (Portugal), WDR (RFA), Sveriges Riksradio (Suécia), BRT (Bélgica) e Radio-France (França) [16]. Notabilizou-se em particular pelas séries do programa televisivo português Povo que canta. Vozes e imagens para uma antologia da música popular portuguesa (1970-1974), realizadas por Alfredo Tropa, que foram emitidas pela RTP [17]. Um excerto de um dos programas desta série, conhecido como A mulher da roda, ganhou o prémio do filme etnográfico em Florença em 1973 [18]. Na sua última entrevista, Giacometti afirmou que o título da série (Povo que canta) se devia a uma canção anarquista da Guerra Civil de Espanha, cujo primeiro verso era Pueblo que canta, ao qual se seguia o verso No puede morir [19].
Giacometti empenhou-se também em actividades de recolha de literatura oral, colaborando com Manuel Viegas Guerreiro (1912-1997), Aliete Galhoz (1929-2020) e Luís Filipe Lindley Cintra (1925-1991), ligados à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e oposicionistas [20].
Em simultâneo, coleccionou ’objectos de arte popular’; com o galerista Manuel Brito, pensou em expô-los e mesmo em vendê-los, para o que alugou casa em Cascais, na qual acabou aliás por viver de aí em diante. Fez também exposições itinerantes destes objectos em associações de estudantes e outros espaços, a principal das quais com o título Povo e Cultura, sendo algumas delas acompanhadas por vendas [21].
No Portugal anterior ao “25 de Abril” de 1974, dada a sua rede de relações, e em especial a sua proximidade com Fernando Lopes Graça, Giacometti era tido como um homem do Partido Comunista Português ou próximo: seria “pelo menos” aquilo que então se designava como um compagnon de route [22]. Anne Caufriez considerou ter sido em Portugal que Giacometti, durante anos entusiasmado pelo existencialismo, se aproximou dos comunistas devido à acção destes na luta contra o Estado Novo, tendo sido marcante o contacto do etnógrafo corso com quem vinha da prisão ou da clandestinidade e arriscava quotidianamente a sua liberdade [23].
2. Os anos da esperança
Com o “25 de Abril” de 1974 surgiu um novo contexto para as relações tecidas entre Giacometti, os seus colaboradores, as populações e as instituições – assim como para o seu trabalho. Datam da conjuntura revolucionária portuguesa os seus projectos de trabalho mais globais e aprofundados.
2.1. O Centro de Documentação Operário-Camponesa - Museu do Trabalho e o Plano Trabalho e Cultura
Atendendo ao perfil pelo qual era conhecido, Michel Giacometti, então pelos 45 anos, foi convidado para contribuir para a reconversão da antiga Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT) no novo Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores (INATEL). Verificava-se uma mudança de atitudes e políticas face aos tempos livres no Portugal revolucionário. Assim, Giacometti integrou a Comissão de Reestruturarão do INATEL, propondo-se criar um Centro de Documentação Operário-Camponesa que incluiria um Museu do Trabalho (CDOC-MT) [24].
Nessa altura, também o campo da educação conhecia enormes mudanças. Uma delas foi a criação do Serviço Cívico Estudantil, constituído por um conjunto de acções junto de populações ou instituições identificadas como problemáticas ou carenciadas, a ser realizado pelos candidatos ao primeiro ano da universidade que, nesse ano, não abriu em Lisboa, Porto e Coimbra [25].
Para Michel Giacometti, o Serviço Cívico Estudantil, por um lado e, por outro, a reestruturação da FNAT/INATEL, com a criação de um CDOC-MT, eram articuláveis. Mais precisamente, a constituição deste Centro poderia beneficiar de uma vasta acção de recolha etnográfica, efectuada por uma apreciável quantidade de estudantes. O facto de dispor de uma grande rede de contactos que Ihe permitira já fazer as suas recolhas, assim como a experiência de já ter trabalhado com estudantes em recolhas etnográficas, tornava o projecto mais exequível [26]. Michel Giacometti apresentou, assim, um Plano ao Serviço Cívico Estudantil. A esta acção, desempenhada por estudantes do Serviço Cívico, Michel Giacometti chamou Plano Trabalho e Cultura.
Em entrevista, Giacometti conta que a designação ’Trabalho e Cultura’ lhe ocorreu por se lembrar de Travail et Culture, uma organização da Frente Popular em França [27]. Contudo, Travail et Culture não existia antes da Segunda Guerra Mundial. Na realidade, este foi um dos principais grupos de educação popular surgidos no decurso da Libération em França e nas suas colónias no Norte de África [28]. Aquela associação de Travail e Culture à segunda metade dos anos 1930 na entrevista de Giacometti é, provavelmente, significativa da forma como o etnógrafo encarava o espírito de solidariedade e esperança que animava aquele grupo, espírito esse que também foi característico da Frente Popular. A reconstrução da memória de Giacometti (com mudança de cronologia) radica talvez nesta âncora afectiva. Anos depois, voltou a associar “Trabalho e Cultura” à Frente Popular, mas agora também à Libération [29]. Sublinhe-se ainda que a Travail et Culture estiveram ligados investigadores do Musée de I’Homme, museu este que teve um papel importante na estadia de Giacometti em Portugal [30]. Travail et Culture inspirou, pois, o Plano Trabalho e Cultura. Tal como aconteceu com a escolha do nome Povo que Canta para o programa televisivo, a opção pela designação “Trabalho e Cultura” para a acção do Serviço Cívico Estudantil não aconteceu por acaso.
O Plano Trabalho e Cultura surgiu como um projecto assumido pessoalmente por uma personalidade conhecida. No texto base do Plano Trabalho e Cultura, Giacometti invoca intelectuais como Fernando Lopes Graça, Manuel Viegas Guerreiro e Ernesto Veiga de Oliveira (1910-1990), com os quais já tinha colaborado; contudo, a direcção do projecto é inequivocamente sua.
Este Plano envolveu 124 estudantes, organizados em equipas de cerca de quatro elementos, cabendo a cada equipa trabalhar em três localidades remotas (uma localidade por mês), nas quais efectivamente viveram – tendo ocorrido esta permanência no terreno em Julho, Agosto e Setembro de 1975, o chamado “Verão Quente” [31].
O Plano Trabalho e Cultura foi composto por uma recolha de música regional, literatura oral, cultura material, instrumentos musicais populares, medicina tradicional, dados de saúde pública, reportagens, levantamentos das inscrições e pinturas murais (sobretudo através de fotografias). Passou também por acções junto das populações, devendo abarcar os campos da animação sociocultural e da organização popular, acções estas que contribuiriam para a politização popular e estudantil. Tais eixos de trabalho permitiriam contribuir, nas palavras do próprio Giacometti, para o “conhecimento directo da cultura original do nosso povo, a sua análise e possível integração na cultura nacional, o esclarecimento social e político das populações e a formação cívica militante dos próprios estudantes” [32]. A maior parte das recolhas do Plano Trabalho e Cultura, entre as quais aquelas que Giacometti definiria como “documentos da comunicação popular de base” [33], destinavam-se a integrar o Centro de Documentação Operário-Camponesa com o seu Museu do Trabalho, Centro este cujo nome evidencia os seus contornos militantes.
O Plano Trabalho e Cultura remete frequentemente para a mencionada proposta de criação de um CDOC-MT no INATEL, que Michel Giacometti tinha apresentado à Comissão Administrativa daquele organismo. Analise-se agora este projecto do CDOC-MT. Giacometti definiu assim os objectivos do Centro:
O CDOC serviria directamente e prioritariamente os trabalhadores que, de vários pontos do País, aí se deslocassem para colectivamente:
a) fortalecer a sua consciência de classe, mediante visitas comentadas e programas de animação sociocultural, utilizando meios audiovisuais e outras técnicas modernas de informação;
b) enriquecer o seu conhecimento objectivo do movimento operário e camponês, através do acesso fácil a documentos de toda a ordem, que testemunhem a condição operária e camponesa, no passado e no presente. [34]
Para recolher, tratar e divulgar os testemunhos da vida e da luta ’das classes trabalhadoras e do povo português em geral contra o fascismo e a exploração capitalista’, o CDOC-MT deveria ser constituído por três sectores:
a) um sector de pesquisa de ’documentação histórica do movimento operário e camponês do nosso País antes do 25 de Abril’, de ’investigação de carácter etnosociológico’ e de ’recolha exaustiva de todos os documentos que [respeitassem] à implicação directa das massas trabalhadoras no processo revolucionário do 25 de Abril’ bem como ’o registo (...) de entrevistas a militantes políticos e sindicais, operários e camponeses, cada vez que a situação política do momento o [viesse] a exigir’;
b) um sector de documentação;
c) um sector de divulgação, assumido como o ’sector-chave’ do CDOC-MT.
Na proposta do CDOC-MT, o Plano Trabalho e Cultura surgia como uma das vias práticas para avançar imediatamente para a investigação etno-sociológica, ao recolher música regional, literatura oral, cultura material e instrumentos musicais. Outra das sugestões urgentes apresentadas, mais virada para a época vivida, consistia na ’recolha imediata (...) de todas as formas musicais e literárias populares, de carácter político e revolucionário, e fotografias a cores dos slogans e palavras de ordem, pinturas de paredes e graffiti’. A terminar, Giacometti escrevia:
Pela nossa parte, garantimos o nosso total empenho na eventual estruturação do CDOC e sugerimos, desde já, a integração nele dos Arquivos Sonoros Portugueses - onde (...) reunimos a mais importante colecção musical popular, fotográfica e etnográfica existente no País. [35]
Numa linha de continuidade com o que já anteriormente tinha dito e escrito, Giacometti define o Plano Trabalho e Cultura como investigação etno-sociológica. O etnógrafo parece justificar o cuidado em incluir o termo ’sociológico’ na caracterização deste Plano por defender ’uma perspectiva histórica e social do trabalho nas suas formas diversificadas, pelo que os objectos seriam situados no meio em que foram ou são ainda utilizados’. [36] É nítida a relutância em assumir o Plano apenas como recolha etnográfica. Este facto pode compreender-se atendendo ao seu posicionamento anterior contra o antigo Gabinete de Etnografia e Folclore da FNAT e contra a política de folclorização, que há longos anos Lopes Graça e Giacometti vinham criticando. Neste sentido, também se deverão entender estas suas afirmações: ’a participação, necessariamente dinâmica no seio do INATEL, [da etnografia] justifica[-se], sim, mas como ciência empenhada, com os métodos que lhe são próprios, na investigação total da vida e da luta do nosso povo’ [37]. Era, aliás, em substituição do antigo Gabinete de Etnografia e Folclore da FNAT que deveria surgir o novo CDOC-MT no novo INATEL.
Entretanto, Giacometti continuou a realizar recolhas esporádicas pelo país e nem a revolução interrompeu a sua atenção aos meios audiovisuais [38]. Na linha do que tinha efectuado, procurou a cobertura do Plano Trabalho e Cultura pela RTP. Pela primeira vez, gravou comícios partidários e manifestações em Portugal (do PCP e da Intersindical). Também gravou os festejos independentistas da antiga colónia da Guiné-Bissau - neste caso, não só gravou o discurso do líder do PAIGC [39] como registou, por exemplo, músicas e danças tradicionais, novos hinos entoados, marchas militares, palavras-de-ordem, perspectivando os ritmos, os desfiles e o uso da língua na intersecção da realidade colonial com a realidade africana (especialmente fula).
Após o fim do Plano Trabalho e Cultura, Giacometti e colaboradores debruçaram-se sobre parte das recolhas, por um lado, e, por outro, preocuparam-se com o destino a dar aos materiais conseguidos.
Iniciou-se o tratamento de duas das linhas das recolhas do Plano Trabalho e Cultura. Uma das linhas de actividade, a da literatura oral, sobressaiu pela equipa envolvida, dirigida por Manuel Viegas Guerreiro, e também pela continuidade, tendo sido aquela em que primeiramente se tornaram visíveis os resultados do Plano Trabalho e Cultura [40]. A outra linha de actividade então empreendida respeita à recolha da cultura material [41]. Não são conhecidos indícios de que, na altura, tenham sido tratados os instrumentos musicais recolhidos, as gravações de música regional, as fotografias, e o material respeitante à medicina tradicional e condições de higiene e saúde das populações [42].
Nesses anos de 1975 e 1976, Michel Giacometti empenhava-se ainda em tentar encontrar uma saída para outra questão essencial: a da institucionalização dos materiais recolhidos pelo Plano Trabalho e Cultura. Atendendo ao que estava previsto nos projectos do Plano Trabalho e Cultura e do CDOC-MT, os vários tipos de materiais seguiriam percursos diversos, embora a sua maior parte se destinasse a integrar os núcleos constituintes do CDOC-MT, para cuja concretização Giacometti tentara preparar desde muito cedo o caminho.
No Verão de 1975, já é referida a futura localização do CDOC-MT em Setúbal, devendo este ser uma realização conjunta do INATEL e da Câmara Municipal, levando a que, em Dezembro de 1975, estas duas entidades assinassem a escritura de fundação na cidade do CDOC-MT. Enquanto prosseguiam os esforços no sentido de conseguir instalações, o processo de institucionalização do CDOC-MT não avançou e, entretanto, deterioravam-se as condições de acomodação dos objectos de cultura material, já levados para Setúbal. Posteriormente, estabeleceram-se contactos entre a Câmara Municipal e o INATEL, para a resolução do problema, sendo que nesta altura Giacometti já saíra do INATEL. Por fim, em 1979, o INATEL doou as peças à Câmara Municipal de Setúbal. Esta Câmara tornou-se, então, a única responsável pela colecção de cultura material que há mais de três anos estava na cidade, estando obrigada à constituição futura duma instituição que, à época, já só se chamava Museu do Trabalho, pois a componente Centro de Documentação Operário-Camponesa desaparecera da designação [43].
Os percursos institucionais de outros materiais recolhidos no Plano Trabalho e Cultura foram também nebulosos e intrincados, dispersando-se hoje originais e cópias pelo Museu Nacional de Etnologia (Lisboa), pelo Museu de Música Regional Portuguesa / Casa Verdades de Faria (Cascais), pelo Museu do Trabalho Michel Giacometti (Setúbal) e pelo Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras (que englobou o antigo Centro de Tradições Populares Portuguesas).
2.2. O alcance destes projectos
Atendendo aos dois projectos referidos (do CDOC-MT e do Plano Trabalho e Cultura), sublinhe-se que a investigação etno-sociológica representava apenas um dos três eixos do sector de pesquisa do CDOC-MT e que, por seu turno, este sector de pesquisa era somente um dos três sectores constituintes do CDOC-MT, uma instituição com tipos de materiais bem diversos.
Os núcleos constituintes do CDOC-MT provenientes do Plano Trabalho e Cultura apresentam-se como bem definidos. Jorge Freitas Branco procurou encontrar um sentido subjacente e uma lógica global ao trabalho de Giacometti nesta fase [44]: ’o Plano Trabalho e Cultura não foi (...) uma expedição científica no sentido clássico do termo’ nem ’foi despoletado para trazer dados novos à Ciência’ [45]. Tratava-se, sim, de uma acção, em princípio anualmente renovável, que permitiria coligir materiais para constituir um museu alternativo ao Museu de Arte Popular. Havia vários anos que etnólogos como Jorge Dias (1907-1973), Ernesto Veiga de Oliveira (1910-1990), Fernando Galhano (1904-1995) e Benjamim Pereira (1928-2020) trabalhavam a cultura material segundo critérios científicos, visando, a partir de certo momento, constituir um museu de representatividade nacional que constituísse uma alternativa ao Museu de Arte Popular. Este novo museu viria a ser o Museu Nacional de Etnologia. Porém, a perspectiva em larga medida solitária de Giacometti (pelo menos no que respeita ao enquadramento científico e institucional) era outra: Giacometti queria praticar não uma ’ciência sobre o Povo’ mas ’uma ciência para o Povo’; portanto, queria um outro museu, centrando-se nas ’alianças e desalianças entre grupos sociais no universo camponês’, museu este assente ’na recuperação dos fragmentos reveladores de um passado estruturado pelas clivagens entre grupos sociais’ [46]. Para Jorge Freitas Branco, Giacometti criou a figura do colector colectivo, dirigido por ele, e composto pelos estudantes que eram os colectores imediatos. O CDOC-MT constituiria uma obra de “militância cultural” que representava a resposta do lado do povo ao Museu de Arte Popular do Estado Novo, resposta esta distinta da que se orientou para a criação do Museu Nacional de Etnologia. Ou seja, o projecto de Giacometti seria uma “proposta de crítica cultural militante” [47].
Examinando os projectos do Plano Trabalho e Cultura e do CDOC-MT, são possíveis algumas observações adicionais que justificam um olhar mais abrangente sobre estes projectos.. Além dos camponeses, o CDOC-MT propunha-se abarcar testemunhos dos ofícios rurais e urbanos, dos operários e das profissões terciárias. Ao procurar documentar condições de vida e processos de luta ’das classes trabalhadoras e do povo português’ no passado e no presente, o CDOC-MT pretendia recolher não só os vestígios das condições e conflitualidades camponesas mas também das operárias, assim como das lutas ’políticas e sindicais’, dirigidas ’contra o fascismo e a exploração capitalista’, como já foi referido. Assim, o CDOC-MT visava também representar outros grupos sociais passíveis de serem englobados na categoria genérica ’nosso povo’, tão presente no discurso de Giacometti. Nesta relevância atribuída às conflitualidades sociais, a actualidade estava muito presente. O objectivo de testemunhar sobre o mundo rural e urbano, de documentar e divulgar conflitualidades, anteriores ou posteriores ao “25 de Abril”, eventualmente legitimadoras de uma outra ordem social idealizada por Giacometti, constituía, pois, uma característica do projecto do CDOC-MT. Acima de tudo, o CDOC-MT configurou-se como militante na pesquisa, na documentação e no crucial sector da divulgação.
O conceito de militância cultural proposta por Jorge Freitas Branco revelou-se particularmente útil para explicar a acção de recolha levada a cabo durante décadas por Giacometti. Aliás, foi o próprio Giacometti que caracterizou a sua investigação como ’trabalho de militância’ e que escreveu:
Temos para nós que o conhecimento objectivo da realidade histórica e cultural do nosso povo apresenta-se como uma das tarefas primordiais dos intelectuais empenhados na construção de uma sociedade nova. Assim, a aproximação das formas específicas de sentir o passado, viver o presente e projectar o futuro por parte de largas camadas da nossa população rural acarreta para todos nós uma pesada responsabilidade. Portanto, longe de restringir a compreensão dos fenómenos de cultura popular tão-só a simples exercícios teorizantes, a militância cultural deve levar-nos a práticas que, a partir do entendimento global da realidade nacional, tendam à preservação, estímulo ou reanimação das expressões artísticas populares de mais profundo enraizamento. [48]
Esta noção de militante cultural afigura-se também essencial para entender a relação entre o etnógrafo corso e o povo português, a que se referia como o ’nosso povo”. Aliás, a primeira pessoa do plural era frequentemente utilizada por Giacometti em várias formulações (a “nossa música regional”, a “nossa literatura popular” e, em lugar cimeiro, o “nosso povo”). No Plano Trabalho e Cultura, a recolha, o estudo e a divulgação da “cultura original do nosso povo” deveriam possibilitar a “sua possível integração na cultura nacional” [49].
Estas afirmações de Giacometti exprimem provavelmente não só a procura de uma pátria como, a seus olhos, a inexistência de uma oposição entre cultura erudita e cultura popular, num tempo em que a cultura de massas já estava a abrir o seu caminho. Esta postura de conciliação entre “a cultura original do nosso povo” e a “cultura nacional” afasta-se de atitudes radicais – como, por exemplo, as de Proletkult ou das correntes maoistas – e incorpora-se nas posições românticas, socialistas ou leninistas, adoptadas pela generalidade das correntes comunistas pró-soviéticas então existentes nos países europeus. [50]
Poder-se-á até certo ponto aproximar Michel Giacometti de Paul Vaillant-Couturier, licenciado em História, doutorado em Direito, polivalente, e impulsionador da política cultural do Partido Comunista Francês no tempo da Frente Popular:
Gostando das canções populares (...), dos pintores do domingo e dos desenhos de crianças, dos desfiles onde se manifesta a multidão unânime, dos hinos revolucionários, (...), Vaillant-Couturier era povo (...) e tal facto evitava-lhe infligir ao povo a afronta de aller à lui [51].
Apesar das diferenças entre os percursos académicos e científicos destes dois homens, quer em Michel Giacometti quer em Paul Vaillant-Couturier encontra-se a vontade de identificação com o povo, conseguida através da militância cultural e política.
Efectivamente, o CDOC-MT representa um projecto de museu alternativo ao Museu de Arte Popular, como afirma Jorge Freitas Branco. Porém, mais do que instituição científica, o CDOC-MT foi concebido como espaço de procura, de documentação e de difusão cultural em vertentes bem diversas, tendo como denominador comum a esperança na construção de uma outra sociedade para o ’nosso povo’. Michel Giacometti sonhou, propôs e empenhou-se na ’criação de um organismo de características talvez únicas no mundo, e posto ao serviço exclusivo do povo português, de que seria o testemunho imparcial perante a História’ [52].
3. Os anos do desencanto
O fim da conjuntura revolucionária portuguesa revelou-se difícil para Michel Giacometti, sendo marcado do ponto de vista pessoal pela sua saída conflituosa do INATEL, que originou um abaixo-assinado de solidariedade subscrito por músicos, artistas e intelectuais, noticiado na imprensa de Julho de 1978. Mais uma vez, Giacometti ficou sem enquadramento institucional.
Continuou a registar música regional – no Alentejo e no Douro, por exemplo. Regressou a Trás-os-Montes e ajudou Anne Caufriez, sua antiga colaboradora, e Michel Plumley na gravação do novo disco Portugal. Chants de blé et cornemuses de berger. Musiques traditionnelles vivantes (1980). Porém, os resultados de trabalho de Giacometti, nesta fase, constam sobretudo de obras com registos anteriormente recolhidos, nomeadamente o livro Cancioneiro Popular Português, em colaboração com Fernando Lopes Graça, cuja edição foi acompanhada por uma cassete (1981), com uma tiragem de 20.000 exemplares que veio a esgotar. Neste livro, as peças recolhidas pelos autores foram registadas antes do “25 de Abril”. São também reedições que constituem o disco Portugal (1979). Tendo como suporte cassetes, Giacometti, com Fernando Lopes Graça e Rosário Borges Pereira, editou Modas Populares do Concelho de Serpa (1982) e ainda Cantos e Ritmos de Trabalho do Povo Português (1983), utilizando também registos anteriormente gravados.
Prosseguiu nas recolhas de literatura oral e, apesar de alguns sobressaltos, continuou a manter contactos com o Centro de Tradições Populares Portuguesas da Faculdade de Letras de Lisboa.
Voltou aos programas radiofónicos para emissoras estrangeiras, nos quais difundiu e comentou música regional anterior à revolução, mas também trechos sobre “um mundo sonoro e musical em transformação” - incluindo registos sonoros com canções da revolução, palavras-de-ordem ou mesmo o hino do Movimento das Forças Armadas (MFA), não esquecendo sons das ex-colónias, tal como Cabo Verde e a Guiné-Bissau [53]. Continuou, assim, a atender à mudança, como aliás já estava patente nas recolhas musicais em que repetidamente chamou a atenção para a hibridação e mesmo para a música pop.
Aliando as recolhas etnográficas e a intervenção política, participou em acções do PCP ou das frentes lideradas por este Partido, como a Aliança Povo Unido (APU). Assim, por exemplo, trabalhou na campanha eleitoral da Aliança Povo Unido para conseguir a vitória do comunista Francisco Felgueiras na Câmara Municipal de Ourique (Baixo Alentejo) em 1982, utilizando as suas recolhas e gravações [54].
Numa entrevista efectuada na altura do lançamento do Cancioneiro Popular Português, falando das necessidades de estudo dos trechos musicais que recolhera e acumulara, Michel Giacometti afirmou que tal trabalho ’levaria uma vida que eu já não tenho’. O mesmo poderia acontecer com outros materiais que recolhera. Mais adiante, na mesma entrevista, continuou: ’Tenho 52 anos de idade. Não tenho saúde de ferro, longe disso. Que vai acontecer a todo este material que armazenei?’ [55] Giacometti interrogava-se sobre o sentido da sua obra e da sua vida [56].
Assim, nos anos 1980, Michel Giacometti orientou-se sobretudo no sentido da salvaguarda ou da divulgação das recolhas já efectuadas.
As peças da colecção etnográfica armazenadas em Setúbal viajaram da cidade para as Festas do Avante [57] onde foram expostas em 1980 e 1983, sendo esta última exposição acompanhada pela edição da cassete já referida e do texto de apoio Cultura Popular Portuguesa: as tradições artesanais [58]. Os artefactos foram ainda expostos em Setúbal e em Grândola. Em especial, Giacometti participou, em Setúbal, em 1987, na exposição de apresentação do projecto do Museu do Trabalho, com base na colecção de cultura material do Plano Trabalho e Cultura, exposição esta intitulada O trabalho faz o homem, e que foi acompanhada pela edição de uma brochura com textos seus [59].
Giacometti já propusera à Secretaria de Estado da Cultura, em 1978, a salvaguarda das suas recolhas sonoras e a criação de um Instituto de Etnomusicologia [60]. Esse espaço não foi contudo fundado. Mais tarde, Giacometti negociou prolongadamente com a Secretaria de Estado, no sentido de tratar e preservar os seus arquivos sonoros, consumando-se em 1985 a venda de parte do seu acervo, embora o etnógrafo tenha ficado com o usufruto do mesmo [61].
Na viragem para os anos 1980, Michel Giacometti e a Câmara Municipal de Cascais estabeleceram negociações para a aquisição por esta última de uma colecção de 269 objectos de ’arte popular’ e de 381 instrumentos musicais populares. A venda concretizou-se em 1981 e este espólio foi encaminhado para a Casa Verdades de Faria - Museu da Música Regional Portuguesa, a cuja Comissão Instaladora Giacometti pertenceu desde 1988 [62].
Em 1989, Giacometti vendeu a sua biblioteca (de cerca de 4000 volumes) à Câmara Municipal de Cascais, ficando mais uma vez com o seu usufruto [63]. Tal como sucedeu com os instrumentos musicais e os objectos etnográficos, a biblioteca foi encaminhada para a Casa Verdades de Faria. O mesmo aconteceu com centenas de fotografias.
A década de 1980 representou, pois, um tempo em que Michel Giacometti se preocupou essencialmente com o destino do seu espólio. Apesar de alguns trabalhos, as recolhas não representaram o sentido principal dos seus esforços nestes anos [64]. Mesmo as estadias no terreno foram marcadas por algum desencanto e por uma certa nostalgia da fraternidade e da esperança anteriormente sentidas, no tempo da luta antifascista. Estes sentimentos de fraternidade e esperança (cujo peso simbólico caracteriza também as Frentes Populares de Espanha e de França dos anos 1930) constituíram uma referência maior para Giacometti.
Em 1990, escassos quatro meses antes de morrer, na sua última entrevista a Adelino Gomes, o jornalista perguntou-lhe:
- É tido por muita gente como homem do PC. É comunista?
- Fui um compagnon de route. Estou fora do PC mas não contra. Este partido pertence ao património do povo português. É indispensável que haja em Portugal um partido que critique a corrupção, as injustiças e os gangsterismos políticos e se possa manter como consciência crítica da sociedade
- Como vê o que se passa a Leste?
- É fácil dizer agora que tinha previsto o que se veio a passar. Mas realmente todas as viagens que fiz a esses países me mostravam claramente que, não obstante os progressos no sentido de uma maior justiça, as pessoas não eram felizes. (…) Acreditei na luta armada, em Cuba e na Argélia, considero natural a luta pela independência nacional de bascos, catalães e corsos, acho que os povos necessitam de encontrar a identidade nacional. Mas penso que há outro tipo de lutas se não mais, pelo menos tão importantes. É preciso que o mundo mude, não isolando uma categoria do real. Estou muito virado, por exemplo, para a natureza e para os animais (domésticos e ferozes).
- Amargurado?
- Adquiri uma maior consciência das contradições do mundo. Não me deixo apanhar facilmente na rede.
- Desiludido?
- Um pouco. Deixei de algum modo de acreditar nos homens, embora acredite ainda na amizade (o valor mais nobre) e na solidariedade” (…) [65].
É certo que, nesse tempo da queda do Muro de Berlim, Giacometti se autodefiniu como tendo sido um compagnon de route. Porém, Giacometti tinha frequentado centros de trabalho do PCP, reunido com o PCP, trabalhado com o PCP. No dia da morte do etnógrafo corso, este Partido exprimiu “o profundo pesar e sentidas condolências pelo falecimento de Michel Giacometti, cidadão generoso, solidário, de espírito universalista e firmes convicções democráticas, de há muito estreitamente identificado e solidário com o PCP” [66]. Numa sua evocação bem posterior, um artigo do mesmo jornal Avante!, órgão oficial do PCP, procura caracterizar a posição partidária desse estrangeiro que se dedicara à cultura portuguesa, narrando as diligências da investigação, as suas dificuldades e acabando por concluir ter sido Giacometti o militante nº 118.611 da organização de Cascais [67].
Regressando à última entrevista de Giacometti ao jornalista Adelino Gomes, então com 61 anos, sabendo-se doente, e parafraseando Napoleão, também corso e de Ajaccio, o etnógrafo afirmou: ’Quando morrer, quero ser enterrado no meio do povo português que tanto amei’ [68].
Assim aconteceu. Aproximando-se a morte, rodeou-se dos amigos comunistas como Nuno Duarte e João Honrado, a quem exprimiu as suas últimas vontades, pedindo que avisassem o também dirigente comunista Octávio Pato (1925-1999). Após Giacometti ter morrido, no hospital de Faro a 24 de Novembro de 1990, o corpo seguiu para Peroguarda, no concelho de Ferreira do Alentejo. Velado por amigos e pela população local, coberto pela bandeira do PCP, em cerimónia em que interveio Octávio Pato, Michel Giacometti foi sepultado, enquanto um coro entoava modas do cante alentejano de que muito gostava e que repetidamente ouvira e gravara na aldeia.
Conclusões
Perspectivando em geral a vida de Michel Giacometti, do seu longo percurso em Portugal depreendem-se actividades de recolha multifacetadas e uma preocupação com a salvaguarda de materiais, de natureza bem diversa. Estas preocupações traduzem-se por uma vertente editorial (no som, na imagem e em textos cuja função é sobretudo de suporte) mas também pela vontade de criar um Arquivo Sonoro ou um Centro de Documentação Operário-Camponesa – Museu do Trabalho.
Outros momentos e resultados da sua obra poderão ainda ser revelados. Foi o que aconteceu quando, em 2010/11, a Tradisom Produções Culturais Lda, com o apoio do jornal Público e da RTP, sob a coordenação de Paulo Lima, editou a série de programas Povo Que Canta, dois filmes etnográficos, uma intervenção política desconhecida e uma recolha etnográfica inédita em Alcácer do Sal, descoberta graças à pesquisa do coordenador. Assim, se tornou pública, vinte anos após a sua morte, uma investigação de 1984 que Giacometti tinha entre mãos quando morreu. Provavelmente outros inéditos, mais ou menos trabalhados e contextualizados, poderão e deverão ainda surgir. No Museu da Música Portuguesa - Casa Verdades de Faria, estão depositados materiais originais, entre os quais rascunhos de obras literárias e os guiões de programas radiofónicos, ainda não encontrados [69]. Também o Museu Nacional de Etnologia dispõe de muitas gravações (nomeadamente aquelas que foram entregues à Secretaria de Estado da Cultura) e, por outro lado, cópias da literatura oral estão no Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Para entender todas estas décadas de labor determinado, de um homem de saúde frágil, que apenas teve uma vinculação institucional duradoura, com um salário fixo e assegurado, nos breves anos em que esteve no INATEL durante a conjuntura revolucionária, é crucial atender às circunstâncias pessoais, sociais e políticas de alguém que foi um militante cultural em vários campos.
As múltiplas facetas – de militante, de andarilho, de alguém que parecia ser ou estar desenquadrado – devem ser aprofundadas. Tendo percorrido e gravado pelo país, amiúde sozinho ou acompanhado por amigos, Giacometti desenvolveu muitas actividades pós-recolha com Fernando Lopes Graça. E, nos Arquivos Sonoros Portugueses, editou este último compositor assim como José Mário Branco. Efectuou muitos registos com o gravador de bobines “Nagra” do arquitecto e arqueólogo Gustavo Marques, também ele um apaixonado pelo teatro dos Bonecos de Santo Aleixo. Giacometti imprimiu textos no Jornal do Fundão, dirigido por António Paulouro (1915-2002), que o apoiou nas suas pesquisas de terreno na Beira Baixa. Conseguiu uma capa do artista plástico José Espiga Pinto (1940-2014) para o disco Alentejo, no qual está presente o cante de Peroguarda, aldeia a que chegou pela mão de cineasta António Reis (1927-1991). Relacionou-se com o galerista Manuel Brito (1928-2005). Dedicou-se à literatura oral com Aliete Galhoz e Manuel Viegas Guerreiro, o que lhe permitiu conhecer Luís Filipe Lindley Cintra. Nas recolhas, procurava “grupos de colaboradores” (como os de Alenquer) e para o campo levava estudantes. Trabalhava também com as suas companheiras, que são nomeadas nos seus trabalhos quer pelas fotografias que tiraram, quer pelas transcrições que fizeram ou pela colaboração em geral [70]. Apresentava os discos em múltiplas sessões públicas, salientando-se as da Academia dos Amadores de Música, cujo coro acompanhava nas suas digressões, assim como percorria o país com amigos e ficava em casa de outros amigos, tentando vender discos à unidade.
Em suma, para prosseguir no seu trabalho, e sem salário certo durante quase toda a sua vida, estabeleceu diversas relações. Apesar do seu desenquadramento institucional, Giacometti integrou e contribuiu para tecer uma rede de uma cultura de resistência antifascista que se prolongou para lá do “25 de Abril”, nela constituindo um “nó”, para usar a terminologia da análise social de redes [71]. Nesta óptica, Giacometti é encarado enquanto sujeito que partilhou e construiu esta cultura de resistência e de intervenção pública, da qual o PCP foi uma matriz essencial. A sua prática de militante cultural e cívico constitui, aliás, a raiz da proposta do Plano Trabalho e Cultura (que Jorge Freitas Branco conceptualizou mesmo como colector colectivo) e que iria desembocar no idealizado Centro de Documentação Operário-Camponesa – Museu do Trabalho.
Para o impacto da sua obra, em larga medida desenvolvida em conjunto com Fernando Lopes Graça, contribuiu o seu valor, dimensão, âmbito geográfico muito alargado, a sua boa compreensão do potencial das novas tecnologias de informação então disponíveis e, também, a rede que integrou.
Arquivos citados
Arquivos particulares reunidos para a feitura de Ao encontro do povo I - A missão e Ao encontro do povo II - A colecção (APMC)
Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria (MMP-CVF)
Arquivo da Câmara Municipal de Setúbal, incluindo Notariado Privativo (ACMS)
Discos e cassetes citados
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Caufriez, Anne & Michel Plumley. 1980. Portugal. Chants du blé et cornemuses de berger. Musiques traditionnelles vivantes. 1. Musiques de tradition orale. Colaboração de Michel Giacometti. Paris : Ocora.
Cendrán, Adolfo. 1970. Silencio. Madrid: Movieplay / Fonomusic (inclui ’Una canción’ sobre poema de Jesús López Pacheco).
Giacometti, Michel. 1960. Chants et Danses du Portugal, 2. Traz-os-Montes. Paris : Le Chant du Monde.
Giacometti, Michel. 1960. Fados. Paris : Le Chant du Monde.
Giacometti, Michel. 1969. Visages du Portugal. Paris: Le Chant du Monde.
Giacometti, Michel. 1983. Cantos e Ritmos de Trabalho do Povo Português. Homenagem a Fernando Lopes Graça. Cassete áudio. S.l.: Festa do Avante!.
Giacometti, Michel & Fernando Lopes Graça. 1968. Bailes Populares Alentejanos. Guitarra: Manuel Jaleca. Lisboa: Arquivos Sonoros Portugueses/Valentim de Carvalho.
Giacometti, Michel & Fernando Lopes Graça. 1968. Bonecos de Santo Aleixo. Lisboa: Arquivos Sonoros Portugueses.
Giacometti, Michel & Fernando Lopes Graça. 1971. Cantos Religiosos Tradicionais Portugueses. Lisboa: Philips/Arquivos Sonoros Portugueses.
Giacometti, Michel & Fernando Lopes Graça. 1971. Pequena Antologia da Música Regional Portuguesa. 6 Discos. Lisboa: Philips.
Giacometti, Michel & Fernando Lopes Graça. 1974. Alentejo. Música Vocal e Instrumental. Lisboa: Torralta.
Giacometti, Michel & Fernando Lopes Graça. 1979. Portugal. Lisboa: Rapsódia / O Canto do Mundo
Giacometti, Michel & Fernando Lopes Graça & Rosário Borges Pereira. 1982. Modas Populares do Concelho de Serpa. Cassete áudio. Serpa: Câmara Municipal e Comissão Municipal de Turismo.
Graça, Fernando Lopes. 1970. Cantares do Mundo. Volume 1. Lisboa: Arquivos Sonoros Portugueses.
Graça, Fernando Lopes & João Gaspar Simões & Michel Giacometti & Sebastião Rodrigues & Francisco Domingues. 1961. Vozes e Imagens de Trás-os-Montes. Lisboa: Arquivos Sonoros Portugueses.
Graça, Fernando Lopes & Virgílio Pereira & Bernardo Terreiro & António Reis & Michel Giacometti. 1961. Lieder Aus Portugal. Livro-disco. Hamburg: Christian Wegner Verlag.
Graça, Fernando Lopes & Michel Giacometti. 1960. Antologia da Música Regional Portuguesa. Trás-os-Montes. Lisboa: Arquivos Sonoros.
Graça, Fernando Lopes & Michel Giacometti. 1961. Antologia da Música Regional Portuguesa. Algarve. Lisboa: Arquivos Sonoros Portugueses.
Graça, Fernando Lopes & Michel Giacometti. 1961. Oito Cantos Transmontanos. Por Francisco Domingues. Lisboa: Arquivos Sonoros Portugueses.
Graça, Fernando Lopes & Michel Giacometti. 1962. Anthology of Portuguese Music, volume 1. Trás-os-Montes. Nova Iorque: Folkways Records.
Graça, Fernando Lopes & Michel Giacometti. 1962. Anthology of Portuguese Music, volume 2. Algarve. Nova Iorque: Folkways Records.
Graça, Fernando Lopes & Michel Giacometti. 1963. Antologia da Música Regional Portuguesa. Minho. Lisboa: Arquivos Sonoros Portugueses/Estabelecimentos Valentim de Carvalho.
Graça, Fernando Lopes & Michel Giacometti. 1965. Antologia da Música Regional Portuguesa. Alentejo. Lisboa: Arquivos Sonoros Portugueses/Estabelecimentos Valentim de Carvalho.
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Entrevistas citadas
Anne Caufriez, Bruxelas, 07/09/1992.
Michel Giacometti, Cascais, 1990.
Nuno Duarte, Lisboa, 2010.
Rosália Heitor Ferreira, Lisboa, 16/12/1992.
Filmografia citada
30 minutos com Michel Giacometti (9/10/1989). Programa editado e coordenado por José Cândido de Sousa. Lisboa: RTP.
Giacometti, Michel. 1962. O Alar da Rede na Pesca da Sardinha – Algarve. Realização de Manuel Ruas, gravações originais de Giacometti. Lisboa: RTP.
Giacometti, Michel. 1963. Rio de Onor. Uma reunião do Conselho. Lisboa: RTP.
Giacometti, Michel. 1970-1974. Povo que canta. Vozes e Imagens para uma Antologia da Música Popular Portuguesa. Realização de Alfredo Tropa. 37 programas. Lisboa: RTP.
Giacometti, Michel. 2010-2011. Michel Giacometti. Filmografia completa. Coordenação de Paulo Lima. 12 vol. Tradisom, Produções Culturais Lda. Série editada com o jornal Público. De 22/11/2010 a 7/2/2011.
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[1] Parte destas ideias foram apresentadas no Colóquio Cem Anos de Partido Comunista Português, organizado pelo Instituto de História Contemporânea da Universidade NOVA de Lisboa, a 04/11/2021. A primeira versão desta biografia de Michel Giacometti saiu em 2003 (Oliveira 2003 in Castelo-Branco & Branco 2003: 493-505); posteriormente alarguei a investigação e, neste texto, escolhi como questão central a pessoa enquanto nó de uma rede social. Agradeço especialmente o apoio na pesquisa de Conceição Correia, técnica superior do Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria, de Nuno Duarte e de Jorge Freitas Branco.
[2] Sobre Giacometti, ver: Oliveira 2021; Branco & Oliveira 2019 e 2019-a; Oliveira 2017; Giacometti 2010/11; Museu 2009; Oliveira 2004; Correia & allia 2004; Oliveira 2003 in Castelo-Branco & Branco 2003: 493-505; Correia & Roquette 2001, Branco &Oliveira 1994; Branco & Oliveira 1993.
[3] Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria (MPP-CVF), Fundo Michel Giacometti, Colecção Documentos Pessoais e Dossier de Imprensa, Informações de Anne Caufriez, Bruxelas 07/09/1992 e de Nuno Duarte, Lisboa, 2010.
[4] Segundo Adelino Gomes, autor da última entrevista a Giacometti, seria a primeira fábrica de plásticos da Noruega - Gomes 05/08/1990: 11. Sobre a experiência nesta fábrica, não consegui mais elementos.
[5] Informações de Michel Giacometti, Cascais, 1990; ver também Gomes 05/08/1990: 11.
[6] Ver por exemplo: Gomes 05/08/1990: 11,15; Intervenção, 1979: 3; Correia & Roquette 2001; Arte Musical 1962: 68; MMP-CVF, Fundo Michel Giacometti, Colecção Fotográfica.
[7] Informações de Anne Caufriez, Bruxelas 07/09/1992 e de Nuno Duarte, Lisboa, 2010.
[8] Schindler 1941. Giacometti mencionou frequentemente a revelação decorrente deste livro de Kurt Schindler e o choque provocado pelo contacto com Trás-os-Montes – ver, por exemplo, Disco Trás-os-Montes 1960; 30 minutos... 09/10/1989: 0mn: 21s - 0mn: 42s; Intervenção 1979: 2; Pinheiro 1990: 168; Vieira 09/1/1982: 25; Gomes 05/08/1990: 11.
[9] MMP-CVF, Fundo Michel Giacometti, Dossier de Imprensa, recorte atribuído ao Boletim Hague 1961.
[10] MMP-CVF, Fundo Michel Giacometti, Dossier de Imprensa.
[11] Arte Musical Novembro 1962: 68. A revista era então dirigida por João de Freitas Branco. Procurei encontrar estes materiais. O poema Melika, assinado por Jean-Yves Michel, consta efectivamente de Simoun 1952: 24-39. Nos outros periódicos franceses, não descobri qualquer artigo assinado por Michel Giacometti ou por um pseudónimo que se pudesse perceber ser de Giacometti.
[12] Arte Musical Novembro 1962: 68.
[13] Ver, por exemplo, Giacometti & Graça 1981, Giacometti 1971-a, Giacometti 1971-b, Soromenho & Soromenho 1984, Soromenho & Soromenho 1986, Galhoz 1987, Galhoz 1988, Ramalhete & Júdice 2009, MMP-CVF, Fundo Michel Giacometti, Colecções Programas Radiofónicos, Documentos Pessoais e Colecção Epistolográfica.
[14] O disco de 1974, datado de Maio, foi preparado antes do 25 de Abril.
[15] Pretendendo vir a constituir uma “série etnográfica”, no primeiro caso, a fotografia e montagem são de Manuel Ruas e as gravações originais de Giacometti enquanto, no segundo caso, a realização principal é de Michel Giacometti. Transcritos em Giacometti 2010/11, volume 10.
[16] Informações de Giacometti, Cascais, 1990; MPP-CVF, Fundo Michel Giacometti, Colecção Documentos Pessoais e Colecção Programas Radiofónicos (onde estão depositados 26 guiões destes programas).
[17] Os 37 programas da série Povo que canta, para além de constarem de Giacometti 2010/11, estão disponíveis no Arquivo da RTP assim como em MMP-CVF, onde existem mais 11 bobines com materiais que não foram seleccionados para os programas emitidos - Museu 2001: 4.
[18] Ver Guimarães 2000: 253-263, onde é efectuada uma análise deste programa.
[19] Gomes 05/08/1990: 11; informações de Giacometti, Cascais, 1990. Em 1965, ao dedicar o disco Alentejo ao seu povo, Giacometti afirma que a este “mais do que nunca é lícito aplicar a sentença «povo que canta não pode morrer»”. Paulo Lima encontrou versos muito próximos em canção de Adolfo Cendrán sobre poema do comunista Jesús Lopéz Pacheco, incluída em disco muito conhecido saído em Espanha em 1970, canção esta que tinha os versos Pueblo que canta / no morirá – Lima 2010/11 in Giacometti 2010/1, vol.1: 18-19 e Cendrán 1970. Contudo, Giacometti usa a expressão vários anos antes da canção de Cendrán, o que indicia que os autores espanhóis terão reutilizado trechos anteriores, tal como aconteceu com muitas outras peças dos cancioneiros.
[20] Ver resultados, por exemplo, em Soromenho & Soromenho 1984, Soromenho & Soromenho 1986, Galhoz 1987, Galhoz 1988, Ramalhete & Júdice 2009, Almeida & Guimarães & Magalhães 2009.
[21] Sobre a colecção de arte popular tal como existia depois do 25 de Abril, ver Branco & Oliveira 1994: 218-223. Ver também MMP-CVF, Fundo Michel Giacometti, Dossier de Imprensa. Peuple et Culture é o nome de um importante grupo de educação popular actuante na Libération em França.
[22] Na sua última entrevista a Adelino Gomes, Michel Giacometti assumiu-se aliás como compagnon de route - Gomes 05/08/1990: 17.
[23] Informações de Anne Caufriez, Bruxelas, 07/09/1992. Esta visão de Caufriez é concordante com a entrevista de Nuno Duarte (Giacometti 2010/1, volume 12) e corroborada pela afirmação de Giacometti em entrevista a Adelino Gomes: “Sou um homem de minorias. Quando os judeus são perseguidos, estou ao lado deles. Mas, se eles perseguem os palestinianos, ponho-me, claro, ao lado dos palestinianos. O primeiro comunista que conheci em Portugal vinha da prisão. Senti que devia estar ao lado deles” (citada em Gomes 25/11/1990: 31). Esse comunista saído da prisão é Nuno Duarte, que acompanhou Giacometti até à morte.
[24] Giacometti, Michel (04/04/1975) Informes para a estruturação de um Centro de Documentação Operário-Camponesa (CDOC), Lisboa, policopiado, 24 pp. Transcrito em Branco & Oliveira 1994: 245-257 e citado in Oliveira 2004: 295-297. Precisamente no dia anterior, a FNAT passara a designar-se INATEL - Decreto-lei n° 184/75.
[25] Ver Oliveira 2004: 143-228. O Serviço Cívico Estudantil (1974-1977) cobriu principalmente as áreas da alfabetização, saúde, segurança social, acções culturais, desporto, apoio às actividades escolares e circum-escolares, actividades no sector primário e a realização de inquéritos. Supostamente em vigência durante três anos lectivos, apenas se desenrolou na prática nos anos de 1974/5 e de 1975/6, sendo desempenhado por estudantes candidatos ao Ensino Superior num ano fora da escola, então criado, que se situava entre o final do Ensino Secundário e o princípio do Ensino Superior.
[26] Antologia da Música Regional Portuguesa. Alentejo (1965).
[27] Intervenção 1979: 5.
[28] Oliveira 2004: 291. Travail et Culture preocupava-se essencialmente com a educação popular (em especial com a formação de militantes) e com a animação cultural, tendo efectuado levantamentos das realidades locais e recolhas etnográflcas. Integrado por trabalhadores e intelectuais, apelava à colaboração dos estudantes na educação popular e na animação cultural na Argélia.
[29] Informações de Giacometti, Cascais, 1990.
[30] Tendo encontrado o livro de Kurt Schindler no Musée de I’Homme, Giacometti dirigiu-se também a este museu para mostrar resultados das suas recolhas, nomeadamente a André Schaeffner - Pinheiro 1990: 168, Pacheco 1984: 10.
[31] Designação pela qual é conhecido um período da revolução portuguesa particularmente marcado por lutas políticas e sociais.
[32] Arquivos particulares reunidos para a feitura de Ao encontro do povo I - A missão e Ao encontro do povo II - A colecção (APMC), Dossier 1, “Doc. 1. Serviço Cívico Estudantil. Plano Trabalho e Cultura”, da autoria de Michel Giacometti, [Lisboa], [Junho/1975]. Transcrito in Branco & Oliveira 1993: 19-22, Oliveira 2004: 291-294.
[33] Giacometti, Michel (sem data) A música tradicional portuguesa e a sua investigação. Cronologia geral e notas críticas, inédito, excertos citados por Correia & Roquette & Magalhães & Lopes 2004: 51.
[34] Giacometti 04/04/1975: 6.
[35] Giacometti 04/04/1975: 23.
[36] Giacometti 04/04/1975: 11. Ver também: Giacometti 1987: 4; e carta de 1978 - MPP-CVF, Fundo Michel Giacometti, Colecção Epistolográfica, NI 018/4. Giacometti já exprimira esta valorização da abordagem sociológica em afirmações suas muito anteriores ao 25 de Abril. Logo, nos primeiros discos da Antologia da Música Regional Portuguesa, Giacometti preocupava-se com a “integridade estético-sociológica” e em “valorizar, no seu sentido histórico e sociológico, a tradição musical”. Também no Povo que Canta sublinhava a dimensão sociológica dos seus inquéritos.
[37] Giacometti 04/04/1975: 5. Sobre a relação entre Giacometti, a etnografia e a ciência, ver Branco in Branco & Oliveira 1993: 235-252.
[38] APMC, Dossier 3, Circular, assinada pela Comissão Coordenadora, Lisboa, 6/09/1975; MPP-CVF, Fundo Michel Giacometti, Colecção Programas Radiofónicos, NI 178 - ver esta colecção em geral.
[39] Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, movimento de libertação das colónias portuguesas em África da Guiné e Cabo Verde.
[40] Giacometti convidou logo um grupo de pessoas para transcrever as peças de literatura oral, no âmbito da linha de acção do Centro de Tradições Populares Portuguesas da Faculdade de Letras de Lisboa liderada por aquele professor. Ainda em vida de Giacometti, por acção deste grupo, editaram-se várias obras que incluem bastantes recolhas do Plano Trabalho e Cultura: Soromenho & Soromenho 1984, Soromenho & Soromenho 1986, Galhoz 1987, Galhoz 1988; Guerreiro 1989, em 5a edição, etc. Mais recentemente, Ramalhete & Júdice 2009. Ver ainda Branco & Oliveira 1993: 266-278, Branco & Oliveira 1994: 5, 273-278.
[41] A inventariação dos objectos e a sua classificação ocuparam também Giacometti e o seu grupo de colaboradores, que continuaram ainda a recolher mais material etnográfico pelo país quer nas regiões abrangidas pelo Plano Trabalho e Cultura, quer noutras. Ver Branco & Oliveira 1994: 6.
[42] Sobre as recolhas de medicina tradicional e os inquéritos de saúde pública, atender a: Informações de Giacometti, 1990; Rosália Heitor Ferreira, Lisboa, 16/12/1992; Nuno Duarte, Lisboa, 2010; Intervenção 1979: 5-6; Oliveira 2004: 311. Mais recentemente, muitos resultados da recolha de medicina tradicional foram publicados em: Almeida & Guimarães & Magalhães 2009.
[43] Oliveira in Branco & Oliveira 1994: 16-22, Oliveira 2004: 314-315. Ver em especial Arquivo da Câmara Municipal de Setúbal (ACMS), Livros de Notas nº 115 e nº 122 do Notariado Privativo da Câmara Municipal de Setúbal, respectivamente “Escritura do acordo estabelecido entre a Câmara Municipal de Setúbal e o INATEL”, 10/12/1975 e “Escritura de cedência de objectos com valor etnográfico à Câmara Municipal de Setúbal pelo INATEL”, 28/06/1979. Quanto à designação, situação oposta ocorrera no Portugal de 1975 – Oliveira in Branco & Oliveira 1994: 16.
[44] Branco in Branco & Oliveira 1993: 235-252 e Branco in Branco & Oliveira 1994: 41-56; Oliveira 2004: 317.
[45] Branco in Branco & Oliveira 1993: 243.
[46] Branco in Branco & Oliveira 1993: 249, 250.
[47] Branco in Branco & Oliveira 1993: 250, 252.
[48] Respectivamente Intervenção 1979: 2, 4 e Giacometti 1983: 3 (sublinhado nosso)
[49] Ver Oliveira 2004: 294, 317.
[50] Ver, por exemplo, Ferro & Fitzpatrick 1989, Fitzpatrick 2017 (em que mantém a leitura da relação entre bolcheviques e cultura patente nas obras de 1970 e 1992), Neves 2008.
[51] André Wurmser em Europe 15/11/1937 citado por Ory 1990: 197. Já foi apontada a relevância das Frentes Populares e da Guerra Civil de Espanha no imaginário e na prática de Michel Giacometti. A sua paixão pelas paredes da conjuntura revolucionária portuguesa, visível no Plano Trabalho e Cultura e no projecto do CDOC-MT, remete para a importância do muralismo, também presente nas representações sobre a Guerra Civil de Espanha. Ver Ory 1990: 503- 504, Oliveira 2004: 318.
[52] Giacometti 04/04/1975: 17.
[53] MPP-CVF, Fundo Michel Giacometti, Colecção Programas Radiofónicos.
[54] Giacometti 2010/1, volume 12.
[55] Vieira 09/01/1982: 26.
[56] Ver também 30 minutos... 09/10/1989, Gomes 05/08/1990, Carvalho 17/07/1990: 23.
[57] Sendo o Avante! o jornal oficial do PCP, as Festas do Avante consistem em festas anuais, com a duração de um fim de semana, com intervenções políticas, eventos culturais (nomeadamente espectáculos musicais), representando espaços de sociabilidade únicos e marcantes. Para uma leitura da Festa do Avante enquanto “utopização da militância comunista”, ver Neves 2016: 61-63.
[58] Giacometti 1983 (quase inteiramente retomado em Giacometti 1983-a), Branco & Oliveira 1994: 17, 258, 259.
[59] Giacometti 1987, Giacometti 1987-a, Museu 1987. Contudo, o Museu, com vários outros núcleos integrantes, apenas foi aberto ao público em 18/05/1995 – Branco & Oliveira 1994: 16-22, 258-261, Oliveira 2004: 314-315.
[60] Correia in Giacometti 2010/1 vol 10: 40. Ver MPP – CVF, Colecção Documentos Pessoais, NI 008/1(I) e NI 010/10.
[61] Pinheiro 1990: 169, Gomes 05/08/1990: 11, 17. MPP-CVF, Fundo Michel Giacometti, Colecção Epistolográfica, nomeadamente NI 010/21 e NI 009/2.12, referindo-se a Escritura de 11/02/1985.
[62] Branco & Oliveira 1994: 218-223; Correia & Roquette 2001: 3-4; Museu 2001: 20-21; MMP-CVF, Colecção Gestão de espólio, “Escritura de compra e venda”, 07/07/1981.
[63] Gomes 05/08/1990: 11,17, Correia & Roquette 2001: 3, 4, Museu 2001: 20. MMP-CVF, Colecção Gestão de espólio, “Contrato de adjudicação de fornecimento de livros da Biblioteca Michel-Maria Giacometti para a Casa-Museu Verdades de Faria”, 19/12/1989.
[64] Gomes 05/08/1990; informações de Giacometti, Cascais, 1990; 30 minutos... 09/10/1989: 18mn 33s.
[65] Gomes 05/08/1990: 17. O apreço por animais já aparecia em entrevista de 1984, na qual afirmava gostar de ir “viver para uma quinta rodeada de bichos” – MMP-CVF, Fundo Michel Giacometti, Dossier de Imprensa, recorte atribuído a JL 1984.
[66] Avante! 29/11/1990: 1.
[67] Martins 26/03/2009: 17.
[68] Gomes 05/08/1990: 11.
[69] MMP-CVF, Fundo Michel Giacometti, Colecção Inéditos.
[70] Note-se que Giacometti se separou de Isabel Ribeiro, de facto, poucos anos depois da chegada a Portugal.
[71] Ver nomeadamente Scott 2017.