Apresentar a trajetória de uma pessoa que passou cerca de metade de seus 93 anos deslocando-se pelo mundo, em viagens, missões de trabalho e pesquisas, representa um enorme desafio. Sua atuação artística e intelectual se estende por mais de sessenta anos ininterruptos em regiões geográficas diferentes, deixando atrás de si uma vida fragmentada no tocante a aspectos temporais, temáticos, documentais e de relações humanas. Muitas vivências e atuações são sobrepostas, entrecruzadas e retomadas em outros momentos, e envolvem muitas pessoas diferentes, o que dificulta a análise e compreensão de sua vida e obra, composta por um enorme acervo de negativos de cunho etnográfico, além de uma expressiva produção bibliográfica de livros, artigos e capítulos de livros.
Trata-se da trajetória de Pierre Fatumbi Verger (1902, Paris - 1996, Salvador/ Brasil) (ver fig.1), fotógrafo, etnógrafo, antropólogo e historiador, radicado desde 1946 em Salvador, que foge em muitos aspectos aos itinerários de seus contemporâneos ou daqueles que tiveram atuações em campos profissionais próximos. Depois de ter, literalmente, rodado o mundo e passado por muitos países em todos os continentes, Verger viveu a maior parte de sua vida entre o Brasil, o Benin e a Nigéria. Ele se dedicou a pesquisas sobre as relações diaspóricas da cultura iorubá entre o golfo do Benin, Cuba e Brasil, em especial, em Salvador, Bahia, tema que abordou em perspectivas históricas e antropológicas, em fotos e a partir de pesquisas documentais diversas. As questões principais de suas pesquisas e publicações foram a ênfase na diversidade e a abordagem de identidades culturais de pessoas negras em ambos os lados do Atlântico, dialogando com saberes tradicionais locais como contraponto a visões hegemônicas de conhecimento. [1]
As primeiras viagens, fotografias e descobertas
Filho caçula de um imigrante belga e sua esposa francesa (ver fig. 2), com 30 anos Verger torna-se o último membro vivo de sua família, após as sucessivas perdas dos dois irmãos mais velhos, do pai e, por fim, da mãe em 1932. A família de feições burguesas, inicialmente com vida próspera, devido ao êxito da gráfica do pai (VERGER, 1994a), não conseguiu, após a sua morte em 1915 e a falência da empresa em 1927, manter o estilo de vida anterior. Pouco se sabe sobre a trajetória familiar, sobre seus sentimentos em relação às tantas perdas precoces, além de Verger, aparentemente, não possuir laços afetivos com parentes da família materna. Apenas em um único livro autobiográfico, 50 anos de fotografia, Verger deixou algumas poucas informações sobre o ambiente doméstico, descrito como orientado demais por questões de aparência e status (VERGER, 1982). [2] Além disso, ele relata seu insucesso na vida escolar, que o levaria a ser expulso de dois colégios, em 1917 e 1920 por indisciplina, deixando assim de concluir sua formação escolar de segundo grau (o liceu francês).
A fragmentação de suas relações afetivas familiares, experimentada no primeiro período de sua vida, levou-o, nos anos 1930, a buscar e descobrir o universo das artes e da fotografia através de artistas próximos ao movimento surrealista em Paris, forte naquele período (PÔSSA, 2007 ; ROLIM, 2009). O amigo responsável por iniciá-lo na fotografia foi o artista gráfico Pierre Boucher. O novo contexto de vida com outros valores reforça sua sensação de estranhamento em relação ao ambiente burguês, cada vez menos familiar para ele, causando-lhe rejeição e uma noção de não pertencimento, fazendo com que ele tente se afastar daquele meio.
Verger começa assim a viajar por vários países e continentes, a partir de 1932, sobrevivendo do ofício da fotografia, recém-aprendido. Para custear as viagens, trocaria muitas vezes suas fotos por passagens e hospedagens, ou trabalharia como repórter fotográfico com missões específicas ; nessas condições, deu uma volta ao mundo : cruzou, em 1934, os Estados Unidos de leste a oeste, o Saara do norte ao sul em 1935/36 e cobriu, após outras viagens, a guerra sino-japonesa em 1937 (VERGER, 1982) (ver fig.3). Suas fotos são logo inseridas em reportagens, publicações e exposições, o que o leva a travar relações com o Musée du Trocadéro (depois Musée de l’Homme) em Paris, onde se torna encarregado do laboratório fotográfico (de agosto de 1934 a outubro de 1935) [3]. Nesse contexto, conhece etnólogos que se tornariam seus amigos, como Alfred Métraux, Jean Rouch, Jaques Soustelle, Germaine Dieterlen, entre outros.
É importante situar sua atuação inicial, com seus constantes deslocamentos geográficos, no período do entre-guerras, antes das facilidades de viagens aéreas, da constituição do conceito de turismo e do surgimento dos modernos meios de comunicação imagéticos, instantâneos ou digitais. É nesse contexto dos anos 1930 que Verger conhece, como fotógrafo, não apenas vários países europeus (Rússia, Espanha, Itália e Inglaterra), mas também outras regiões do planeta como Taiti, Filipinas, Japão, China, Estados Unidos, Antilhas, vários países africanos e quase toda a América Latina. Trata-se do auge do período do fotojornalismo e Verger tem suas fotos divulgadas pelas grandes revistas da época, como Life, Match, Voilá, Daily Mirror e Paris Soir, fotografias que mostram o que, em geral, poucas pessoas conheciam, a não ser que tivessem, elas mesmas, viajado.O material fotográfico resultante daqueles anos de viagens traz cada vez mais a marca distintiva de sua estética e visão de mundo : o olhar para o ser humano na vida cotidiana, sem poses ou interferências do fotógrafo nas cenas que se apresentam a ele quando passa pelos lugares. Sua máquina Rolleiflex (segurada à frente do corpo no momento de captação da imagem) permitia-lhe uma aproximação mais discreta às pessoas, sem confrontá-las à câmera. Ele conseguia, assim, manter-se à margem da cena, sem ser percebido de forma imediata, mesmo que envolvido nas situações fotografadas. (Ver fig.4)
Parte de sua produção é negociada por duas agências fotográficas (Aliance Photo e ADEP), criadas por Verger e alguns amigos fotógrafos nos anos 1930, para assim possibilitar uma melhor inserção de suas fotos em revistas e jornais. Diante do volume de imagens desse período de intensa produção, surgem seus primeiros livros fotográficos, documentando diversas culturas, mostrando pessoas nos seus contextos e com seus hábitos, no Pacífico, no México e nos Andes (VERGER, 1937, 1938, 1945). Só alguns anos mais tarde essas produções imagéticas, acompanhadas de um maior ou menor número de legendas e textos que as contextualizam, serão lentamente substituídas pelas publicações decorrentes de suas pesquisas de campo e em arquivos, dando lugar a uma importante produção de mais de trinta livros e mais de cem capítulos de livros e artigos científicos publicados, em maior parte na segunda metade de sua vida. Além disso, ele foi reunindo materiais escritos diversos, decorrentes de suas observações e contatos com instituições, aparentemente levando-os consigo nas suas viagens, até constituir um acervo documental definitivo na sua casa. Além disso, construiu uma obra visual com mais de 62.000 negativos que registram seus deslocamentos e sua visão de mundo.
A Bahia e os estudos afro-brasileiros
Desde o início da II Guerra Mundial Verger encontrava-se na América hispânica. Mas, no início de 1940, Verger é mobilizado e enviado ao Senegal, então colônia francesa, onde serve como radiotelegrafista e fotógrafo. Ao ser desmobilizado, em 1941, retorna à América Latina, via Rio de Janeiro, seguindo para a Argentina, Bolívia e Peru, onde permanece por cinco anos, deslocando-se de um país para o próximo, trabalhando para jornais locais e para o Museu de Lima (1943/44). Em 1946, ao voltar para o Brasil por Corumbá, vários acasos levam Verger à cidade de Salvador, no estado da Bahia : na sua passagem inicial por São Paulo, conhece o sociólogo Roger Bastide, então professor da Universidade de São Paulo - USP, que lhe fala com entusiasmo de Salvador. Ao seguir para o Rio de Janeiro, Verger tem a sorte de ser contratado como fotógrafo pela principal revista brasileira da época, O Cruzeiro, para trabalhar precisamente em Salvador (VERGER, 1982, p.239). (ver fig. 5)
Salvador foi a primeira capital do Brasil entre 1549 e 1763, cidade portuária que recebeu grande contingente das pessoas escravizadas durante o longo período de escravidão, encerrado pela Abolição apenas em 1888. Até hoje, a cidade, composta por cerca de 75% de pessoas negras, é considerada o centro da cultura afro-brasileira. Se o fascínio pelo ser humano pode ser observado na obra fotográfica de Verger desde sempre, pelo fato de passar um tempo maior no mesmo lugar, ele tem agora a oportunidade de mergulhar em vivências culturais compartilhadas cotidianamente com pessoas. Suas descobertas de práticas culturais diversas tornam-se visíveis nas reportagens da revista O Cruzeiro, em geral com textos de jornalistas locais como Odorico e Claudio Tavares, dando visibilidade a práticas e tradições culturais até então desconhecidas no Rio de Janeiro, sede da revista, e em toda a região sudeste do país, a mais industrializada. São artigos sobre feiras livres, festas populares, tradições católicas, profissões diversas e artistas locais (LUHNING, 2002). Além da documentação da vida cotidiana e cultural em Salvador, Verger também viaja pela região nordeste, ampliando a cobertura sobre a chamada cultura nordestina, até hoje estigmatizada no Brasil, abordando práticas agrícolas no semiárido ; a cultura do circo ; do carnaval ; artistas populares locais, entre vários outros temas. (ver fig. 6 e 7)
Chama a atenção que, poucas semanas após a sua chegada a Salvador, ainda com conhecimentos limitados de português (depois de vários anos de trânsito por países de língua espanhola), Verger já circula pelos arredores da cidade, documentando o jeito de viver dos baianos, o que é possível inferir a partir de suas anotações diárias nas suas agendas que, mesmo telegráficas, permitem seguir os primeiros passos que se materializam nas fotografias tiradas. (ver fig. 8, 9 e 10)
A afinidade com a cidade e seus habitantes o faz trocar, no início de 1951, o quarto de hotel, inicialmente ocupado, por uma residência fixa, a sua primeira após anos, mais exatamente um quarto alugado, situado no centro histórico da cidade. Essa região, perto do porto, conhecida pelo seu conjunto arquitetônico em estilo colonial, constitui, naqueles anos 1940 e 1950, o verdadeiro centro da cidade em termos comerciais e de circulação de pessoas, oriundas das mais variadas classes sociais.
As relações entre elas eram, como Verger sempre ressaltava, aparentemente cordiais, ainda que marcadas por profundas diferenças sociais e raciais, aspecto que suas fotos denotam de forma indireta : os sujeitos negros, principal tema de suas fotos, ocupam os lugares inferiores da escala social, em geral, como trabalhadores braçais, mesmo que apresentados em perspectivas pouco usuais (VERGER, 1980). (ver fig. 11)
Muitos dos seus personagens e interlocutores (estivadores, feirantes e artesãos) também participavam de práticas culturais e religiosas importantes na época, tais como a capoeira, ternos de reis, promessas, procissões de santos católicos e, em especial, do candomblé, religião afro-brasileira [4], todas elas documentadas em fotos e anotações esparsas.
Enquanto as primeiras práticas mencionadas eram abarcadas na época pelo termo folclore, o que as levava a serem socialmente aceitas, as religiões afro-brasileiras sofriam uma forte rejeição. Ainda nas primeiras décadas do séc. XX, elas eram abertamente perseguidas e ridicularizadas pela imprensa (LUHNING, 1995), apesar da constante resistência de seus praticantes e dos primeiros diálogos que se estabelecem entre pesquisadores e integrantes dessas religiões.
Lembremos da visibilidade e do maior reconhecimento público alcançados pelo candomblé em função do II Congresso Afro-brasileiro em 1937, organizado pelo jovem escritor e antropólogo negro Edison Carneiro. O evento se pautou também em estudos anteriores, iniciados por Nina Rodrigues e Arthur Ramos, ambos médicos da Faculdade de Medicina da Bahia, e dialogou com pesquisas de campo realizadas por alguns jovens pesquisadores norte-americanos : Donald Pierson e Ruth Landes (nos anos 1930) e, por volta de 1940, Franklin Frazier, Lorenzo Dow Turner e Melville J. Herskovits [5]. Diferente das buscas destes pesquisadores, interessados em questões religiosas, sociológicas, raciais ou linguísticas, Verger chegou à Bahia inicialmente para fotografar e, provavelmente sem saber dos seus precursores, ingressou rapidamente no caminho da pesquisa, mesmo sem nenhuma formação anterior no campo da antropologia [6].
A aproximação de Verger à cultura baiana se dá de forma tão intensa e rápida que, já em 1948, dois anos após sua chegada a Salvador, ele realiza os primeiros rituais propiciatórios no candomblé, tornando-se espiritualmente vinculado ao terreiro da Ialorixá [7] Mãe Senhora, o Ilê Axé Opô Afonjá, vínculo que manteria até a morte de Mãe Senhora em 1967 (ver fig. 12). Ao mesmo tempo, suas fotos de manifestações religiosas afro-brasileiras, grande novidade na época, chegam ao conhecimento do antropólogo francês Théodore Monod, em Dacar (VERGER, 1982a, p. 241). Este convida Verger, ainda em 1948, a realizar um estudo comparativo entre as expressões diaspóricas da religião dos orixás, oriundas dos países da África Ocidental, como bolsista do IFAN, Institut Français d’Afrique Noire, convite aceito por Verger. (ver fig. 13)
O mensageiro entre dois mundos : métodos e objetivos
A permanência de Verger em terras africanas, no Daomé/Benin e na Nigéria, entre 1948 e 1949, não é a primeira, já que nos anos 1930 ele havia feito uma viagem ao norte da África, além da estada em 1940/41 em Dacar, durante a II Guerra, antes mencionada. E a viagem tampouco seria a última, apenas inicia uma longa sequência de idas e vindas entre o Brasil e a costa ocidental africana, com curtas passagens pela França e outros países, como o Congo, Portugal, ou a Inglaterra. Sua permanência em Salvador se reduzirá, nas três décadas sucessivas, a visitas curtas de alguns meses ou pouco mais que um ano, fazendo com que Verger retome a sua vida de viajante, agora como pesquisador. A distância entre os dois lados do Atlântico é encurtada por extensas e frequentes trocas de correspondências com os amigos que constituiu ao longo dos anos, em especial, no Brasil ou, então, trata-se de pessoas interessados no Brasil. Entre estes nomes podem ser mencionados Roger Bastide, Alfred Métraux, Gilbert Rouget, Lydia Cabrera, além dos amigos baianos como Carybé, Agostinho da Silva e Martim Goncalves, entre inúmeros outros.
O convite feito por Monod para que ele documente os paralelos entre as expressões religiosas no Brasil e na África leva a duas publicações de grande repercussão : Dieux d’Afrique (VERGER, 1954) e Notes sur les cultes des orixás e voduns (VERGER, 1957). Dieux d’Afrique poderia ser visto como um estudo de antropologia visual não declarado, resultado de suas pesquisas de campo em lugares e vilarejos como Ketu, Holly, Pobé e vários outros, situados na fronteira entre o Benin e a Nigéria, região central da cultura iorubá, mostrando nas imagens práticas culturais até então desconhecidas no Ocidente. Porém, Monod exigiu a entrega de um estudo científico que dialogasse com a ainda escassa literatura sobre as relações religiosas transatlânticas e não apresentasse apenas uma extensa documentação fotográfica (VERGER, 1982, p. 255-257). Esse fato obrigou Verger a entrar também no campo de pesquisa documental, apoiada por novas bolsas do IFAN em 1952/1953 e 1956 [8]. O estudo resultante, Notes sur les cultes ... (1957), fundamentado por fartas fontes bibliográficas, além de fotografias, constitui um marco importante na sua transformação de fotógrafo viajante e repórter fotográfico em pesquisador [9]. (Ver fig. 14)
Ele mergulhou ainda com mais profundidade no universo religioso a partir de sua iniciação como babalaô, sacerdote no culto de Ifá (um dos sistemas divinatórios da cultura iorubá) em 1953. Isso representou para ele um momento de profundo significado, pois se considerava literalmente renascido após anos de perdas (desde seu desenraizamento familiar), buscas e deslocamentos. Seu nome iniciático Fatumbi, que significa “renascido pelo Ifá”, será, desde então, associado ao nome de batismo, adotado para assinar cartas e publicações. Muitas de suas experiências com o mundo religioso são comentadas com seus amigos brasileiros do candomblé, como ele ressalta em cartas trocadas com vários interlocutores, incluindo Mãe Senhora, Mestre Didi, Geraldo Nascimento, Carybé, Vivaldo da Costa Lima e Eunice Katunda. Por outro lado, Verger tem uma noção muito clara de sua responsabilidade relativa aos saberes iniciáticos particulares, adquiridos com o tempo, que não podiam ser compartilhados, a contragosto de seus amigos (MORIN, 2017, p. 234/235).
Um dos outros temas por ele trabalhado foi o das relações transatlânticas : desde o século XIX, pessoas escravizadas e libertas ou seus descendentes retornaram à costa ocidental da África, de onde o maior número de sujeitos escravizados chegou a Salvador, em especial, na fase final do tráfico escravista no século XIX. Parte delas havia sido deportada após as várias rebeliões de pessoas escravizadas na Bahia, como a Revolta dos Malês em 1834 (REIS, 2003) ou, então, retornada por vontade própria após a Abolição, retomando relações familiares e religiosas (CASTILHO ; PARÉS, 2010 ; CASTILHO, 2011 ; 2017). Verger conheceu nos anos 1950 duas senhoras que tinham retornado em 1899 a Lagos e, a partir de seus relatos e de outras pessoas desta comunidade de Agudás [10] (ver fig. 15), aprofundou seus estudos e tornou-se um mensageiro entre os dois lados do Atlântico. [11] No sentido literal, este papel o fez transportar nas suas viagens transatlânticas objetos, plantas e outros insumos para os cultos religiosos no Brasil, além de cartas e informações diversas, trocadas entre pessoas nos dois lados do Atlântico que assim se comunicavam. (ver fig. 16)
Parte de seus procedimentos metodológicos se pautava no cruzamento de dados documentais e de nomes de entidades religiosas e no levantamento de histórias de vida [12], quando esse método ainda não era comum na história ou na antropologia, além do uso sistemático de materiais visuais para fins de compreensão e análise de práticas culturais [13]. Em pesquisas dos anos 1940 e 1950, era comum Verger mostrar fotografias de um lado do Atlântico no outro para estimular diálogos com as imagens ou os contextos retratados (Ver fig. 17 e 18). Por isso, em várias de suas imagens aparecem pessoas olhando outras pessoas fotografadas, interagindo com as fotos. Devemos lembrar que a maior parte desses clichês pertencem a uma época na qual as pessoas nos países por ele visitados ainda não dispunham de acesso fácil a tecnologias como a fotografia e, menos ainda, à televisão e suas representações imagéticas mais instantâneas. Assim é possível que as imagens de Verger tenham contribuído para construir as primeiras referências visuais desses contextos.
Documentos por ele encontrados em 1949, tratando de relações comerciais do brasileiro José Francisco dos Santos, radicado no Benin como traficante de pessoas, deram um impulso fundamental às pesquisas de cunho histórico ; note-se que a publicação das cartas desse personagem resultou em um dos primeiros estudos do autor sem fotos (VERGER, 1952). Ele levantou também dados mais precisos sobre a quantidade dos sujeitos traficados, e à medida que emergiram histórias pessoais, além dos dados, tratava dessas individualidades, como abordado no livro Os libertos (1992b). A partir dessa pesquisa inicial, Verger realizou um de seus estudos mais complexos, devido à multiplicidade de arquivos visitados em seis países (Brasil, Portugal, Holanda, França, Inglaterra e Nigéria), levantando, com minúcia, fontes documentais sobre o comércio de pessoas entre o Golfo do Benin e a Bahia. Esse esforço de pesquisas está na origem de Flux et Reflux de la traite des esclaves entre le Golfe du Bénin et Bahia de Todos os Santos, du dix-septième au dix-neuvième siècle, que lhe rendeu, em 1966, o título de doutor em estudos africanos (na modalidade de terceiro ciclo) na Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade de Paris-Sorbonne. Ele foi orientado pelo africanista Paul Mercier, com uma co-orientação não oficial do historiador Gabriel Debien [14].
O livro resultante da tese, com título homônimo, foi publicado em francês (na França), inglês (na Nigéria) e português (no Brasil) : Fluxo e Refluxo. Do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Baía de Todos os Santos, do séc. XVII ao XIX, (VERGER, 1968, 1976 e 1987 (2021)). Ele constitui até hoje uma leitura obrigatória para estudiosos do assunto do tráfico transatlântico, sobretudo porque muitas das fontes consultadas por Verger hoje não estão mais acessíveis nos arquivos. O processo de inserção de muitas fontes transcritas na íntegra nas suas publicações foi chamado pelo historiador João José Reis de “fotografismo” (REIS, 1996), denominando assim a junção abundante de documentos tal qual a uma colagem de imagens, desta forma associando a experiência inicial do fotógrafo com a do posterior antropólogo e historiador.
Redes de contato e circulação : capital simbólico
As redes de diálogo entre continentes, contextos e pessoas são elementos fundamentais na vida e atuação de Verger : parte de seus contatos se materializa em inúmeras cartas trocadas com diversos interlocutores, para os quais a correspondência escrita era praticamente o único meio de comunicação disponível na época. As cartas são completadas por eventuais telegramas, além de recortes de artigos de jornal ou publicações em forma de separata [15]. Se o meio escrito poderia supor um reduzido círculo de interlocutores (pessoas com efetivo domínio da escrita ou vinculadas ao mundo acadêmico), nota-se que muitos deles, apesar das perceptíveis dificuldades em relação à escrita, buscam se comunicar com Verger por esse meio, enquanto outros recorrem à escrita por terceiros, que escrevem no seu lugar. Entre eles figuram, em especial, pessoas do circuito dos agudás e das religiões afro-brasileiras, representantes das tradições orais documentadas por Verger [16]. (ver fig. 19)
É importante destacar também o capital simbólico proveniente dos contatos com pesquisadores, com os quais Verger se comunica na condição de amigo pessoal ou interlocutor especializado. Vários de seus colegas e amigos, acadêmicos ou não, atribuem a Verger, inicialmente ainda sem vínculos empregatícios mais estáveis [17], uma suposta liberdade para poder viajar e pesquisar, permitindo-lhe acumular muitos conhecimentos empíricos ao longo dos anos, o que o distinguiria de muitos colegas. As fartas correspondências com seus colegas e amigos franceses Alfred Métraux, Roger Bastide e Gilbert Rouget exemplificam como Verger torna-se um interlocutor indispensável para estes três pesquisadores e outros que veem nele um representante dos seus respectivos campos de estudo : Verger contribui com dados etnográficos, por vezes solicitados de forma explícita, discute questões ou, então, realiza pesquisas em parceria.
Além disso, cada um deles desenvolveu seu modo particular de diálogo com Verger, não apenas sobre questões específicas das suas pesquisas, o que se percebe, em especial, na forte amizade com Métraux, uma vez que ambos se consideravam “gêmeos”, tendo nascido com poucas horas de diferença (VERGER, 1992a, 1993b). Devido à morte prematura de Métraux, as parcerias com ele foram menos numerosas, resumindo-se às pesquisas na Guiana Holandesa, no Haiti, no Projeto da UNESCO e a alguns projetos não concluídos [18]. As colaborações com Bastide [19], por sua vez, foram diversas e constantes (inclusive na participação de Verger na única viagem de campo de Bastide à África em 1958), resultando também em textos escritos em coautoria, como os sobre mercados africanos e o sistema de adivinhação (BASTIDE/VERGER, 1981 [1953], 1959) (ver fig. 20). O mesmo fato se deu com o etnomusicólogo Rouget [20], com o qual Verger realizou gravações, publicadas em vários discos LP do Musée de l’Homme, o que suscitou em Verger o interesse por fenômenos sonoros. Desde 1952, quando recebeu um gravador de rolo da mão de Rouget, Verger incluiu em suas pesquisas a gravação de tradições musicais e de itans, a literatura oral dos babalaôs, mesmo que estes materiais não tenham sido mais publicados por ele em vida.
As extensas redes de interlocutores de Verger, do qual fazem parte colegas e amigos desde o período em que vivia ainda na França e tinha contatos frequentes com o Musée de l’Homme, iam além de diálogos com pesquisadores franceses, quer brasilianistas, quer africanistas. Elas incluíam também pesquisadores ligados a museus, como Luiz Valcarcel (Peru), Bernard Fagg (Nigéria), Clement da Cruz (Benin) e Marianno Carneiro da Cunha (Brasil) [21], com cujas equipes Verger colaborou em diferentes funções. No entanto, seus contatos também envolviam colegas vinculados a universidades no Brasil, na França, na Nigéria e outros lugares. Desta forma, sua relação com o mundo acadêmico, inicialmente apenas tangencial, foi se intensificando e fez com que Verger, aos poucos, estabelecesse contatos com esse ambiente de pesquisa em diferentes instituições em vários países. Porém, Verger inicia sua trajetória acadêmica propriamente dita em uma idade pouco convencional, com cerca de 60 anos, quando, em geral, as pessoas começam a contar o tempo até poderem se aposentar.
Relações com instituições e com o mundo acadêmico
Foram seus amigos mais próximos, Métraux e Bastide, que o avisaram do prazo para submeter uma possível candidatura a um doutorado na modalidade de terceiro ciclo na École Pratique des Hautes Études (EPHE) da Sorbonne/ Paris, o que foi atendido por Verger no final de 1959. Com a aprovação do pleito, recebeu, desde então e até 1962, uma bolsa da EPHE para realizar suas pesquisas históricas sobre as relações transatlânticas, tema de seu doutorado [22]. No final desse período, Verger, antes de atingir a idade limite para tal, candidatou-se para ingressar no CNRS (LE BOULER, 2002, p.394), o Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, e, após a aprovação, continuou sua pesquisa de doutorado com financiamento do CNRS.
Durante sua vinculação com o CNRS a partir de 1962, ele foi atuante na seção de antropologia/ etnologia, passando pelos vários níveis de pesquisador existentes : chargé de recherche, maître de recherche (a partir de 1966) e directeur de recherche em 1971-1972, novamente antes de atingir a idade limite. Os temas de seus projetos de pesquisa nesses dez anos abordam, além das relações históricas transatlânticas do tráfico trabalhadas em sua tese, - incluindo o trânsito de navios, a história dos fortes na costa africana e o papel do fumo baiano -, o campo da etnobotânica e o papel dos conhecimentos orais no culto de Ifá [23]. No final do período, a antropóloga Germaine Dieterlen sugere em uma carta de 18/10/1972 a prorrogação do seu vínculo com o CNRS, argumentando que Verger teria entrado tarde na instituição. Infelizmente não conhecemos a resposta. Quase na mesma data, Verger se dirigiria a Jaques le Goff, presidente da VI seção da École Pratique des Hautes Études, candidatando-se como directeur d’études associé, com uma pesquisa sobre o sistema de adivinhação iorubá. Em resposta, meses depois, foi lhe oferecida a possibilidade de tornar-se chargé de conférence para o período de 1973/1974 [24].
Verger não tem, no entanto, como aceitar, já tendo construído uma outra proposta : em 1973 ele inicia um novo projeto apoiado pelo CNRS sobre plantas vinculadas ao sistema de divinação iorubá e seu uso ritual. Essa pesquisa na modalidade de convenção de trabalho (n. 5355, 5484 e 5781) (fig. 21), com renovações anuais, se estende até o final de 1975, e foi realizada sob a supervisão do etnomusicólogo Gilbert Rouget [25], como responsável pelo acompanhamento da pesquisa e a análise e aprovação dos relatórios [26]. Ela transformou-se em publicações sobre as relações entre plantas e seus usos rituais, através de fórmulas de pronunciamento, chamados de “encantamentos“, analisadas por Verger a partir do conceito de “automatismo verbal“ (VERGER, 1972 e 1976/77 a e b). Ele finaliza esse tema, um dos mais importantes de sua carreira, com o livro Ewe - O uso das plantas na sociedade iorubá (VERGER, 1995a), lançado um ano antes de sua morte.
Durante a realização dessas pesquisas com vínculos diversos com o CNRS, morando a maior parte do tempo na Nigéria, Verger intensifica contatos estabelecidos anteriormente com o ambiente universitário neste país. Já desde a segunda metade dos anos 1950, aproximou-se da Universidade de Ibadan (ainda University College Ibadan) como Associated Member, além dos contatos constantes que estabeleceu com a Nigerian Historical Society, fundada nesta mesma universidade pelo historiador Saburi Biobaku em 1955 [27]. Além disso, entre 1959 e 1960, Verger trabalhou, a convite de Bernard Fagg, para o Department of Antiquities do governo nigeriano, incumbido de adquirir peças antigas de arte iorubá para o acervo de museus nigerianos [28].
Os anos 1950 e 1960 representam o período final do modelo de universidade colonial (BEIER, 1997a), vigente na Nigéria até à independência do país em 1960, quando iniciam-se lentas mudanças políticas e sociais, também no contexto universitário. Desde 1953, mas em especial nos anos 1960, Verger deu várias palestras no recém criado Extra Mural Department da University of Ibadan [29], a universidade mais antiga da Nigéria, e a única existente antes da independência. Fundada em 1948, ainda como college da University of London (BEIER, 1997b, p.99), a instituição aplicava por essa razão inicialmente conteúdos programáticos focados em história, arte e literatura da cultura inglesa, expressando assim uma visão colonial pautada em conhecimentos europeus. A criação do Extra Mural Department nos anos 1950 parece ter sido uma primeira tentativa de inserção de temas voltados para a cultura iorubá e oriundos da realidade nigeriana, processo que foi se intensificando a partir da plena autonomia da universidade, em 1962 (BEIER, 1997b, p. 101-110). (Ver fig. 22 e 23)
Apenas após a independência surgiram outras universidades, entre elas a universidade de Ile-Ifé, criada em 1962 e renomeada em 1987 como Obafemi Awolowo University, homenageando um dos mais importantes líderes iorubás na constituição de novas configurações políticas. Verger teve a oportunidade de acompanhar parte desse processo ao longo dos anos 1950 e 1960, mesmo sem ter sido um docente regular do Extra Mural Department. Mais tarde, nos anos 1970, dialogou com a universidade de Ile Ifé, quando foi contratado como professor visitante entre 1976 e 1979. Ele contribuiu assim para as discussões vigentes do período com suas pesquisas sobre temas voltados para a história local, questões de literatura iorubá, oralidade e conhecimentos etnobotânicos tradicionais.
Como exemplo desse lento processo de descolonização política e intelectual pode ser citado o movimento na Universidade de Ile Ifé para garantir que estudantes, funcionários e professores, adeptos da religião tradicional iorubá, tivessem um local para cultuar os orixás, semelhante a cristãos e muçulmanos que já contavam com igrejas de diversas confissões e uma mesquita no campus universitário. Um manifesto gerado em 1977 foi assinado por várias figuras de renome, como Wole Soyinka, futuro prêmio Nobel de literatura ; os pesquisadores Wande Abimbola e Olabiyi Yai ; o ativista Abdias do Nascimento e pelo próprio Verger que recebeu a função de chair na execução dessa reivindicação [30]. (ver fig. 24)
É provável que sua presença na Nigéria ao longo dos anos 1950, 1960 e 1970, convivendo com o ambiente universitário na Nigéria em transformação, tenha marcado Verger. Além de trocas presenciais, morando por vários anos em Oshogbo e Ibadan, ele manteve contato epistolar com vários dos professores e pesquisadores africanos e africanistas, atuantes nas instituições locais naquele tempo, por anos ou até décadas [31]. Isso evidencia sua inserção em contextos de pesquisa, envolvido com a construção de temas e abordagens específicas, também em projetos exploratórios, em busca de parcerias com universidades brasileiras, como o Nigeria-Brazil Diaspora Research (1975), representado pelo historiador Fola Soremekum [32].
Muitos são os nomes de colegas de universidades nigerianas que aparecem em suas correspondências da época : as professoras Bolanle Awe e Elizabeth Bevan e os colegas Saburi Biobaku, Lassissi Sanussi, Tekena Tamuno, chief Obafemi Awolowo (Ibadan), Babatunde Laval, Titi Euba, Wande Abimbola, Michael Afolayan, Fola Soremekun, I.A. Akinjogbin, Sangodare Akanji (Ilê Ifé), além de africanistas como Barry Hallen, Ulli Beier, Wilfried Feuser, Doig Simmonds, Michael Crowder, Peter Morton-Williams, Bernard Fagg, e pesquisadores franceses como Théodore Monod, Gabriel Debien, Paul Mercier e outros. No Benin, ele mantém correspondências com Olabiyi Yai, Dohou Denis e Machoudi Yessoufou [33], além de trocar cartas com jovens universitários beninenses e nigerianos que iniciavam seus estudos e posteriormente seguiram suas carreiras até fora de seus países de origem, mantendo contato com Verger por anos [34].
Vários desses colegas são autores de obras com as quais Verger dialogou nas suas próprias publicações ao longo dos anos, tais como Dieux d’Afrique (1954), Orixás (1981), Fluxo e refluxo (1987/2021), entre outros, dando vazão a estes diálogos intelectuais. Ele também manteve desde a sua iniciação no culto de Ifá diálogos constantes com babalaôs, os representantes dos conhecimentos tradicionais como expressão viva de epistemologias nativas. Vários deles tiveram nos anos 1970 uma presença constante na universidade de Ile Ifé, na condição de tutores com contratos fixos e remunerados, contribuindo de forma marcante com seus conhecimentos orais para a constituição de novos conteúdos e formas de ensino [35]. Foi neste período que Verger passou três anos como professor visitante na universidade, finalizando sua pesquisa sobre aspectos do sistema de Ifá com os babalaôs, documentando itans e fazendo transcrições e traduções, com a colaboração de estudantes locais, como por exemplo Joseph Afolabi.
Ainda antes de assumir a função de professor visitante em Ilê Ifé, já no final de seu vínculo efetivo com o CNRS, no início de 1975, Verger iniciou seu primeiro contrato com a Universidade Federal da Bahia, UFBA, em Salvador, o que se tornaria depois seu vínculo profissional mais estável e longo, já no final de sua vida. Ele foi contratado para constituir o acervo do Museu Afro-Brasileiro em Salvador, primeiro do gênero no Brasil, parte do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) desta universidade e planejado com apoio do Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores (MRE). Devido aos seus contatos anteriores com órgãos oficiais, artistas e artesãos em vários países da África Ocidental, Verger ficou encarregado de adquirir grande parte das peças a serem expostas no futuro museu. Ele exerceu a posição por quinze meses (até o início de 1976), quando seguiu para o mencionado período em Ile Ifé. Após seu retorno ao Brasil [36], já na fase final da instalação do Museu (inaugurado só em 1984), foi incorporado de forma efetiva aos quadros da UFBA [37], em junho de 1980, quando ainda não existia a praxe de realização de concursos públicos, constituindo-se o vínculo por simples contratação. Verger permaneceu nessa posição até 1994, quando foi aposentado de forma compulsória [38].
O estudo de Thiara Matos (2012) evidencia as decisivas iniciativas e contribuições de Verger no processo de tentar desenhar um museu diferente de instituições congêneres : primeiro por não contar com um acervo baseado em processos de espoliação, roubo e apropriação e, segundo, por dar grande ênfase à pesquisa e inserção de áreas complementares do estudo de culturas africanas, como laboratórios de etnomusicologia e linguística, algo muito novo no Brasil na época. Tudo indica que a concepção museológica e da planta baixa tenha sido realizada pelo próprio Verger, certamente alimentado pelos anos de participação direta ou indireta em outros museus, ligados a universidades e instituições de pesquisa, entre eles os já mencionados Musée de l’Homme (anos 1930) e os Museus de Lima (1943/44), Lagos (1959/1960) e Ouidah (anos 1960) (VERGER, 1969).
Etnólogo, historiador, precursor da antropologia visual ou etnobotânico ?
Em uma carta de 1972 ao CNRS, Verger diz “Je suis ethnologue, africaniste, spécialiste des yoruba dont je parle la langue...” e no seu currículo enviado à universidade de Ile Ifé em 1976 ressalta “44 years of ininterrupted scholarly activities concerned with anthropology” [39]. Isso mostra que naquela altura de sua vida, com mais de 70 anos, Verger se percebia como pesquisador do campo da antropologia, seção na qual sempre tinha apresentado seus projetos no CNRS [40]. E nesse mesmo currículo de 1976, divide sua atuação até aquele momento em duas fases : uma primeira de 1932 a 1946, dedicada à documentação fotográfica, e a segunda de 1946 a 1976, que coincide com o período final de sua atuação fotográfica, já radicado no Brasil. É nesse período que ele inicia sua atuação como pesquisador nos campos da antropologia e história, áreas que predominam na terceira fase com o retorno ao Brasil. A análise de sua atuação a partir deste currículo serve para aprofundar alguns aspectos de sua produção intelectual naquele período.
Ao fazer um recorte nas suas publicações entre 1951 e 1980 [41], período de sua presença em países da África Ocidental, observa-se que, do total de 70 publicações, quase a metade é publicada nestes mesmos países : 16 na Nigéria, 6 no Benin, 10 no Senegal, 10 no Brasil, além de 21 na França e as 7 restantes em outros países europeus. Além disso, algumas das publicações em revistas francesas foram anteriormente apresentadas em congressos e encontros científicos em diversas cidades da África Ocidental. Apenas 7 publicações não têm uma relação com a temática das culturas iorubá ou afro-brasileira, seja na dimensão religiosa, histórica, antropológica, etnobotânica ou ligada às relações transatlânticas. Esses números permitem ter uma percepção das contribuições de Verger para a constituição de pesquisas e discussões sobre esses diversos temas, cada vez mais presentes após o processo de descolonização e a criação das universidades com novos currículos próprios.
Os textos de Verger são publicados em editoras universitárias nigerianas, diversos periódicos africanos e outros de circulação internacional, tais como : Notes Africaines e Bulletin de l’Ifan (Senegal), Études Dahoméennes (Benin), Odú - Journal of Yoruba and related Studies, Journal of the Historical Society of Nigeria (Nigéria), Journal de la Societé des Africanistes, Journal de la Societé des Américanistes, L´Homme : Revue Française d’Anthropologie (França), além de alguns periódicos brasileiros : Afro-Ásia, Revista USP, Revista do Museu Paulista. Percebe-se que as publicações em revistas, além de muitos capítulos em livros, são mais numerosas nas primeiras décadas, entre 1950 e 1970, perdendo espaço para livros que aparecem mais no final da vida de Verger, após 1980, processo de certa forma, semelhante ao período inicial de sua produção. No entanto, há uma diferença fundamental : na fase inicial dos anos 1930 e 1940 são publicações centradas em fotografias, com eventuais textos complementares e, no final de sua vida, trata-se de diversos livros de textos, sem ou quase sem fotografias como Fluxo e refluxo, Dilogun, Os libertos, Le pied à l’étrier e Ewé (VERGER, 1987, 1989, 1992, 1993b (com MÉTRAUX) e 1995a), além de alguns álbuns fotográficos.
Evidencia-se assim que, mesmo que a fonte financiadora de suas pesquisas por um longo período (dos anos 1950 até meados dos anos 1970) tenha sido a França, não apenas os locais de suas pesquisas foram, em maior parte, países africanos, mas também o destino de sua produção escrita, algo pouco usual na época e até hoje. Além disso, sua atuação permeia várias áreas das ciências sociais e humanas : da antropologia à história, passando pela antropologia visual, tendo realizado estudos importantes em todas elas. Isso pode explicar por que durante muitos anos, a própria autodenominação utilizada por Verger varia entre os termos etnólogo, historiador e antropólogo, embora o termo historiador pareça ter sido usado menos por ele, mesmo tendo declarado em várias correspondências que o trabalho em arquivos foi algo revelador e muito envolvente para ele, por permitir a compreensão da conexão e dimensão do tráfico escravagista com questões do presente (VERGER, 2007).
Deve ser ressaltado ainda que em alguns projetos de pesquisa Verger dialogou com questões da etnomusicologia, certamente motivado pelo seu amigo Gilbert Rouget, tendo realizado várias gravações musicais em conjunto com ele [42], mas também por conta própria. Ele gravou, por exemplo, duas senhoras da comunidade agudá em Lagos [43] e o repertório de um “toque completo” de candomblé, quer dizer, a sequência das cantigas cantadas em um ritual público [44]. Ambas as gravações foram feitas em 1958, parte de um projeto maior, parcialmente apoiado pela UFBA, para estudar as relações transatlânticas e da diáspora a partir de práticas musicais religiosas, quando o conceito de culturas diaspóricas ainda não era comum no Brasil.
Além disso, enveredou a partir do final dos anos 1960 e, em especial, nos anos 1980, em estudos na área da etnobotânica, abordando o efeito de plantas medicinais em contextos rituais, sobretudo ligados ao culto de Ifá e do candomblé. Além de constituir um herbário, depois entregue ao Instituto de Biologia da UFBA, ele estabeleceu contatos com especialistas das áreas de etnobotânica e farmacologia como Jean-Marie Pelt, Léon Lapeyssonnie, Pierre de Coninck (França), Paul Houngnon (Benin/França) e Doig Simmonds do Kew Gardens em Londres, centenário jardim botânico britânico [45]. Publicações resultantes destes estudos abordam, em especial, o efeito calmante ou estimulante de certas plantas do sistema botânico iorubá (VERGER, 1976/77a e b ; 1985).
Devido a estes estudos, Verger foi contactado por médicos-pesquisadores do campo da psiquiatria como Roger Makanjuola (Nigéria), futuro vice-chanceler da universidade de Ile Ifé (ver fig. 25 e 26), e Jaques Mabit (Peru) (VERGER, 1995b e VERGER, B-395), interessados em trabalhar com novas possibilidades de tratamento no campo da psiquiatria a partir dos resultados destes estudos, sobretudo, os sobre as plantas calmantes.
Vários dos resultados destas pesquisas foram apresentados em congressos da área de etnobotânica e farmacologia nos anos 1980 e 1990, também em parceria com pesquisadores mais jovens (VERGER ; MING ; 1997) [46].
Obra, legado, desdobramentos e visibilidade
Morando desde 1979 de forma definitiva em Salvador, Verger dedicou-se à finalização de pesquisas iniciadas já em décadas anteriores, em especial, as pesquisas sobre o sistema iorubá de classificação de folhas e o Ifá, e à disponibilização de outras já publicadas anteriormente, mas disponíveis apenas em francês ou inglês, para novos leitores em novos formatos e/ou em português. Desta forma, a última fase de sua vida continuou intensa em relação a pesquisas e publicações : nos últimos quinze anos de sua vida Verger publicou um terço de sua produção, 54 livros, artigos e capítulos, destes a maior parte no Brasil, mas também na França e em alguns outros lugares, com uma atuação e um legado invejável para uma pessoa de mais de 80 anos [47].
Entre as novas publicações concebidas entre 1980 e 1996 também constam alguns álbuns fotográficos que o (re)apresentam como fotógrafo ao público no Brasil como Retratos da Bahia, Orixás e 50 anos de fotografia (VERGER, 1980, 1981 e 1982), já que sua atuação como repórter fotográfico em O Cruzeiro não era mais familiar à geração mais nova. O incentivo para essa nova etapa editorial coube a um grupo de amigas que fundaram em 1980 uma editora para poder publicar as obras de Verger. O nome, Corrupio [48], foi uma homenagem ao local de moradia de Verger, o Alto do Corrupio, na Vila América, para onde ele mudara-se em 1960. Ao focalizar em sua obra já publicada até então, além de títulos inéditos, e ao construir um projeto editorial, tornou-se necessário organizar seus vastos materiais, processo iniciado pela editora [49], bem como pensar na salvaguarda do material, já que Verger não tinha familiares que poderiam cuidar do acervo.
Desta forma surgiu a Fundação Pierre Verger em 1988, criada por Verger, ao lado de alguns amigos próximos, com o objetivo de garantir a preservação de seu acervo pessoal, acumulado ao longo de cinco décadas. A instituição funciona até hoje na sua casa em Salvador, localizada na Vila América, um bairro popular, no meio de uma vizinhança de população predominantemente negra. A Fundação busca manter seu compromisso estatutário com o legado de Verger que prevê, além da preservação, a divulgação (através de exposições e publicações) e disponibilização do acervo e de sua obra a pesquisadores e ao público em geral, a constituição de parcerias com interlocutores africanos e ações culturais e educativas para pessoas negras.
O acervo da Fundação Pierre Verger, instituição de direito privado e herdeira de Verger, inclui o acervo fotográfico, com 62.000 negativos, já digitalizado e disponível em um banco de dados, centenas de fotos reveladas e ampliadas ainda por Verger [50], uma biblioteca especializada com mais de 4.000 títulos e o acervo pessoal com mais de 240 pastas com documentos diversos : anotações avulsas, rascunhos, correspondências, manuscritos e até bonecas de livros, materiais ainda não catalogados por completo e, menos ainda digitalizados ou analisados [51]. Trata-se de um acervo de grandes dimensões, construído pelo próprio instituidor ao longo de sua vida e a partir de seus critérios. Isso representa um enorme desafio para compreender e atualizar a organização do acervo, que revela sempre novas pistas para possíveis análises com enfoques interpretativos múltiplos, mas exige um profundo mergulho na vida e atuação de Verger. (ver fig. 27)
Além da criação da Fundação Pierre Verger e da participação na constituição do Museu Afro-Brasileiro, Verger se empenhou também na criação da Casa do Benin, vinculada à prefeitura de Salvador, também inaugurada em 1988. Esse projeto foi mais um desdobramento de seu trabalho de pesquisa, focado nas relações transatlânticas entre o golfo do Benin e a Baía de todos os Santos, propondo a criação de uma instituição comprometida com a temática africana numa dimensão de fácil acesso ao público, além do intercâmbio de pesquisadores e estudantes.
A Casa do Benin faz parte de um projeto bilateral, entre as prefeituras de Salvador e Cotonou, com participação da arquiteta Lina Bo Bardi, que objetivava também a criação de uma Casa do Brasil no Benin [52], um projeto não finalizado, embora tenha tido até a indicação do primeiro diretor desta casa, o antropólogo brasileiro Sérgio Ferretti, que não chegou a assumir a posição, ao contrário da efetiva presença dos primeiros diretores beninenses na casa do Benin em Salvador. Essa iniciativa certamente deu um impulso para a posterior criação da Casa de Angola (1999) e da Casa da Nigéria (2008), também em Salvador, mas sem a participação de Verger. Todas elas buscam contribuir para uma discussão mais qualificada sobre o legado das culturas das pessoas trazidas à força desses países à Bahia e assim poder pensar novas relações de políticas públicas e culturais contemporâneas.
Novos olhares e caminhos em direção ao futuro
Logo após a sua morte, em 1996, foi criado pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA) [53] o Prêmio Pierre Verger, cujo objetivo é apresentar e reconhecer produções fílmicas e fotográficas que tenham pertinência antropológica. O título do prêmio homenageia de forma explícita a obra visual de Verger e sua importância para a área no Brasil, até então ainda pouco abordada a partir deste ângulo. A criação do prêmio talvez explique o fato de Verger ter se tornado tema de diversas dissertações e teses universitárias a partir desse momento, analisando sua produção imagética como fotógrafo e discutindo seu papel como precursor da antropologia visual (MARTINI, 1999 ; PÔSSA, 2007 ; ROLIM, 2009 ; SOUTY, 2007) entre vários outros trabalhos sobre outros aspectos de sua obra e atuação, como trabalhos sobre arquitetura em Salvador e a sua relação com outros artistas baianos nos anos 50.
Um dos temas que surgiu com mais ênfase foi a análise da constante presença de corpos masculinos nas fotografias, destacando sua dimensão homoerótica, remetendo diretamente à questão da homossexualidade de Verger, tema nunca abordado por ele de forma pública. No entanto, Verger não foi uma exceção em relação ao fato de não comentar abertamente sua orientação sexual, pois muitos de seus amigos gays da mesma geração ou até mais novos, tal qual ele, optaram pelo silêncio diante da homofobia, das agressões e dos julgamentos existentes, sobretudo na sociedade brasileira. Todavia, mesmo que Verger não tivesse assumido essa causa em vida, suas fotos já inspiraram várias pesquisas sobre o tema (MALYSSE, 2000 ; MARIN, 2021 no prelo).
Assim, pode se dizer que o, até então, fotógrafo pesquisador passa a ser um pesquisado, em especial no Brasil, foco de estudos que buscam novas contribuições para diferentes campos de conhecimento a partir de olhares interpretativos diversos em relação às abordagens multidisciplinares presentes na obra fotográfica e escrita de Verger, mas também a sua vida. Muitos desses pesquisadores pertencem a gerações mais novas que constroem seus olhares sobre Verger sem tê-lo conhecido, mas por terem visto suas fotos e lido suas obras ou suas entrevistas.
Verger que sempre abordou outras pessoas por meio de suas fotografias, falava pouco sobre si mesmo e, nas suas pesquisas e publicações, preferia deixar as fontes falarem. Após a sua morte, começou a tornar-se o centro de várias perguntas a ele dirigidas : perguntas sobre sua pessoa, sua relação com a religião, sua visão estética na fotografia, sua sexualidade e sua trajetória em diferentes campos, entre outros aspectos. Seu jeito não conformista relativo a certas imposições e etiquetas sociais, seu senso de liberdade, bem como sua visão crítica da ideia de educação e de modelos formativos, talvez tenham sido apenas reflexos de seu tempo, de sua trajetória e vida pessoal. Mas, parece que eles também representem inspirações para novas gerações a seguirem caminhos diferentes do mainstream e a manterem a convicção sobre o direito a ter dúvidas e sobre a contínua necessidade de construir percepções críticas e diversas do mundo. Algo importante na época de Verger, e sempre.
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VERGER, Pierre. Cartas de Pierre Verger para Vivaldo da Costa Lima, 1961-1963. Revista Áfro-Ásia, n. 37 (2007), p. 241-288.
Arquivo pessoal VERGER
PASTAS :
A-21 e A-22 (Brésiliens en Áfrique) ; A-24 (IFAN) ; B-242 e B-245 (correspondência plantas/ Ewe) ; B-297 (Casa do Benin) ; B-299 (Museus) ; B-348 (Gilbert Rouget) ; B-385 (Agudás) ; B-388 (correspondência Benin) ; B-389 (correspondência Afrique) ; B-394 e B-395/ 397 (Nigéria, vários assuntos) ; B-399 (correspondência Benin) ; B-400/ 405 (correspondência Mércier e Debien) ; B-474/ 476 (III. Ciclo EPHE) ; B-477/ 478 (CNRS) ; B-480/ 481 (UFBA) ; B-499 (Titre e Travaux) ; B-530 (Olabiyi Yai) ; B-544 (correspondência Bahia/ UFBA).